sexta-feira, 31 de julho de 2009

Snow Crash

Quando eu li as críticas sobre "Snow Crash" (de Neal Stephenson), no Caderno 2 do Estadão e na Veja, achei que o livro fosse recente. Não é. Foi escrito em 1992. As críticas saíram 17 anos depois porque, só agora, veio o lançamento em português (pelo menos no Brasil).

Em português o livro custa R$ 49,00 (em média) , mas eu comprei em inglês (paperback) por R$ 16,00. Novo. Pelo menos, o lançamento em português serviu para chamar a minha atenção.

Como eu li sem saber que era de 92, achei algumas coisas meio estranhas no começo, mas depois acabei decidindo ignorar esses detalhes e o texto fluiu melhor. Um exemplo de coisas estranhas: apesar da história se passar em um futuro próximo, alguns personagens participaram em eventos como a guerra do Vietnam (ou seja, o camarada já teria que ter uns 100 anos pelo menos).

Outro exemplo: o autor passa um bom tempo descrevendo um ambiente virtual chamado Metaverse, mas quando finalmente termina, você pensa: "Caramba, é só o Second Life melhorado. Porque não disse logo? Será problema de royalties?". Não, mané. É que o livro é de 92.

O herói/protagonista se chama Hiro Protagonist. Sem piada. É entregador de pizzas, hacker e também "the greatest sword fighter in the world". Sem piada. Escrevi em inglês mesmo, porque soa ridículo demais em português (assim como muitas outras coisas no livro, o que deve ser a explicação para terem levado 17 anos para lançar a tradução). Hiro fica sabendo da existência de uma droga virtual que está sendo distribuída no Metaverse e vai atrás para tentar entender como funciona um "barato virtual", mas acaba se envolvendo em uma conspiração envolvendo uma megaempresa de telecom, uma seita pentecostal e traficantes.

O enredo mistura ficção científica, história, religião e filosofia de uma forma que não deixa de ter lá a sua semelhança com Matrix, mas é também totalmente diferente de qualquer outra coisa que eu já tenha lido. É absurdamente criativo, rápido e divertido de ler. Para quem leu Neuromancer, é obrigatório. E é de 92, quando você ainda usava o Gopher, lembra? Se lembra, pode ir comprar o livro já!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Museo del Prado

O Museu do Prado, em Madrid, tem provavelmente a coleção de pinturas mais impressionante do mundo. Aberto ao público desde 1819, exibe obras de artistas como Velásquez, Rafael, El Greco, Rubens, Goya, Tintoretto e muitos outros.

O museu conta com um site muito bom e bem organizado, com reproduções das principais obras (por volta de 2.000), acompanhadas de textos explicativos. Além disso, apresenta roteiros para visitas de 1, 2 ou 3 horas, que podem também ser usados para ver as obras on-line.

O endereço do site é - www.museodelprado.es.

Vão abaixo os links para algumas das obras mais bacanas e importantes (ok, é uma mistureba brava, mas eu também não sou nenhum especialista):

- Las Meninas, de Velásquez (provavelmente a mais famosa do museu - use a ferramenta de zoom e dê uma olhada no espelho ao fundo) - http://www.museodelprado.es/index.php?id=995&tx_obras[uid]=390&cHash=09f3779343

- Las Majas (vestida e desnuda), de Goya - http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-maja-vestida/?no_cache=1 e http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-maja-desnuda/?no_cache=1

- Os Fuzilamentos, de Goya - http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/el-3-de-mayo-de-1808-en-madrid-los-fusilamientos-en-la-montana-del-principe-pio/

- O Triunfo da Morte, de Brueghel, o Velho - http://www.museodelprado.es/coleccion/que-ver/2-horas-en-el-museo/obra/el-triunfo-de-la-muerte/

- El Descendimiento de Roger Van der Weyden - http://www.museodelprado.es/coleccion/que-ver/3-horas-en-el-museo/obra/el-descendimiento/

Bom, e tem mais uma infinidade de obras, obviamente. Como o espaço aqui é limitado, a dica é entrar na seção "Qué ver" do site e seguir um dos roteiros sugeridos. Só não deixe de dar uma lida nos textos que acompanham cada obra, pois eles ajudam a ver os quadros de uma forma diferente.

PS - mais uma para encerrar - El Coloso - http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/el-coloso/

O Rei do Inverno, O Inimigo de Deus e Excalibur

"Não seja absurdo, Derfel". A frase dita por Merlin a Derfel, protagonista da trilogia de Bernard Cornwell que forma as Crônicas do Rei Artur, aparece diversas vezes ao longo dos três volumes e parece um lembrete do autor para si mesmo, num esforço para se obrigar a manter o realismo e a verosimilhança do texto.

Eu comprei e li o primeiro livro ("O Rei do Inverno"), sem saber que se tratava de uma trilogia, mas não cometa o mesmo erro: se não for para ler os três, nem comece, pois eles não são independentes. O segundo volume é "O Inimigo de Deus" e o terceiro "Excalibur".

Mas vamos ao que interessa: o trabalho é fantástico. Conta uma possível história de Artur (que na verdade nunca foi rei de coisa nenhuma), ao longo do tumultuado século V, imediatamente anterior à Idade Média. Há um esforço grande em apresentar em detalhes a vida da época, a situação política e principalmente as batalhas contra os invasores saxões, que levaram Artur à condição de grande líder militar da Bretanha.

A narração usa o ponto de vista de Derfel Cadam, um protegido de Merlin que acompanha toda a trajetória de Artur, a princípio como guerreiro de seu exército e posteriormente como líder militar e amigo. Aparecem os diversos nomes conhecidos e esperados, como Guinevere, Lancelot, Tristão, etc., mas sempre em um contexto relevante e com participação importante na trama (aliás, quem nunca topou muito o tal Lancelot, vai se divertir).

Para quem gosta de história é um prato cheio, que descreve uma época muito pouco documentada e com a qual temos muito pouco contato. Para quem apenas quer um bom livro, também. Ou seja, recomendo com entusiasmo, mas vá preparado para levar um bom tempo na leitura dos três volumes e também para gastar uma boa grana, pois cada um gira na faixa de R$ 45,00 (mas valem cada centavo).

sábado, 4 de julho de 2009

Boltzmann e Dilbert

Quem foi que Dilbert não é cultura? Pode ser inútil, mas ainda assim é. Eu assino um serviço que manda diariamente uma tirinha do Dilbert, que de vez em quando traz umas piadas não muito óbvias. Uma delas foi a abaixo:



Ok, ele dá uma prévia, mas o que afinal é a tal "Boltzmann Brain Hypothesis". Talvez você saiba, mas eu não tinha a menor idéia e fui pesquisar...

Ludwig Boltzmann foi um físico e filósofo austríaco nascido em Viena, em 1844. Um de seus principais trabalhos na física foi sua colaboração na formulação da Teoria Cinética, em que utilizou a composição e movimento moleculares dos gases para explicar suas propriedades macroscópicas (como temperatura, volume e pressão). Basicamente, a teoria afirma que a pressão não se deve à repulsão entre as moléculas, mas sim às colisões entre moléculas movendo-se a diferentes velocidades. Uma descrição mais detalhada pode ser vista em:


Mas o que me interessava era o aspecto filosófico do trabalho de Boltzmann, muito relacionado ao seu trabalho na física. Ele formulou o chamado "Paradoxo do Cérebro de Boltzmann". Vamos a ele.

Uma das interpretações da 2a Lei da Termodinâmica, adotada por criacionistas, é a de que entropia do universo sempre aumentaria, levando o universo obrigatoriamente da ordem à desordem. Com base nesse ponto de vista, a pergunta que Boltzmann visava responder era: porque, então, nós observamos um nível tão alto de organização no universo (ou seja, uma entropia tão baixa)?

Boltzmann sugeriu que o mundo de baixa entropia que percebemos é resultado de uma flutuação aleatória em um universo de alta entropia. Haveriam flutuações estocásticas na entropia, mesmo que este universo estivesse próximo do equilíbrio e, dado o imenso tamanho do universo, poderiam haver flutuações grandes (embora extremamente raras), que ocasionariam o nível de organização que percebemos.

O que nos leva ao conceito de Cérebro de Boltzmann: se o nível de organização da realidade que percebemos, em que bilhões de entidades auto-conscientes coexistem, é o simples resultado de uma flutuação aleatória, então é muito mais provável que esta realidade seja na verdade o resultado apenas da existência de um único cérebro auto-consciente, formado do caos, e que cria suas próprias memórias e percepção da realidade. 

Em outras palavras, é infinitamente maior a probabilidade de surgir uma única entidade auto-consciente a partir do caos do que as bilhões que percebemos. Ou seja, você não existe e eu estou escrevendo isso à toa, em vez de tomar minha cervejinha imaginária.