sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

On love

Ter um filho traz sensações novas para qualquer pessoa, muitas boas e algumas um pouco inquietantes. Na linha das inquietantes há uma que me preocupa de tempos em tempos e que é a razão principal da existência deste blog: o risco de que eu venha a faltar e não esteja presente para acompanhar o crescimento do Leo.
É um pensamento sombrio, eu sei. Especialmente para hoje, mas vamos a ele.

Não me preocupa o “dinheiro para os estudos”, ou a sua formação moral, por exemplo, pois isso eu tenho certeza que a mãe dele pode proporcionar com extrema competência. O que inquieta é a possibilidade de não conseguir jogar alguma luz e dar minhas opiniões em alguns aspectos fundamentais da vida, como estudos, carreira, amizades, religião, felicidade, amor, etc.

São tópicos extensos, densos e complexos, bem mais adequados a um debate do que a um texto curto, mas esta é a ferramenta que existe para se conversar com o adulto futuro de uma criança de quatro anos, então vai ter que servir. Também não são temas que sejam fáceis de analisar e resumir sozinho, de modo que vou tomar a liberdade de usar algumas reflexões e ideias de boas fontes para me ajudar aqui.

Hoje eu quero escrever um pouco sobre o amor e para isso vou pedir licença ao Sr. Mark Rowlands para usar muito conteúdo de um livro seu que o Leo dificilmente irá ler, pois não fará mais sentido quando ele crescer: “Tudo que sei, aprendi com a TV”. Assim como no caso de “O Filósofo e o Lobo”, que mencionei alguns posts atrás, é um título que não me atrai nada, mas que esconde uma obra muito boa (pelo visto, esta é uma maldição que assombra o Sr. Rowlands).

É um livro de filosofia que utiliza personagens e situações de séries de TV americanas como exemplos para explicar e clarificar conceitos filosóficos, o que funciona extraordinariamente bem, mesmo que você só tenha visto alguns episódios de algumas delas. No caso do amor, por exemplo, ele usa “Friends”. Tem uma abordagem muito interessante, que vou tentar resumir aqui sem recorrer à série, já que será irrelevante daqui a uns 20 anos.

Uma das abordagens recorrentes para o amor é a da filosofia grega, em que o sentimento poderia ser dividido entre três naturezas diferentes:

- Eros – o amor “erótico” (mas não no sentido atual da palavra), apaixonado, intenso e imediato, do tipo que explica a atração entre os sexos;

- Philia – o amor “fraterno”, do tipo que mantém a união entre as famílias e amigos;

- Ágape – o amor perfeito, de Deus para com a humanidade.

O conceito de Eros foi desenvolvido por Platão. Inicialmente cabe lembrar que, para ele, o mundo que percebemos seria apenas um reflexo, uma imitação de um mundo puro, eterno e imutável, a que chamou de Mundo das Ideias (ou das Formas), onde existiria a forma mais alta e perfeita de beleza: o “belo”.

Para Platão, o Eros refletiria um desejo universal, incessante e transcendental de busca deste “belo” perfeito, do qual teríamos apenas uma vaga noção. O amor erótico, portanto, seria um reflexo do grau de proximidade da perfeição do “belo” ideal que uma pessoa percebe em outra. O Eros se manifestaria, por exemplo, sob a forma de um “amor à primeira vista” e de um intenso desejo que todos certamente experimentam algumas vezes na vida.

Ora, há pelo menos três questões importantes que devem ser levantadas sobre relacionamentos baseados exclusivamente sobre o Eros. A primeira é o que o Eros nunca será um amor correspondido na mesma intensidade, pois o grau de percepção da proximidade à perfeição do “belo” será diferente de uma pessoa para outra.

A segunda questão é que sempre há o risco de aparecer uma terceira pessoa que se aproxime mais do “belo”. O que acontece com o relacionamento neste caso? Vai para o ralo, da mesma forma que acontece quando um “amor verdadeiro” do Nelson Rodrigues acaba quando surge alguém mais rico.

Finalmente, o que acontece como Eros quando a pessoa amada envelhece e passa a se distanciar cada vez mais do “belo”?

Claramente se percebe que o amor baseado no Eros é transitório e efêmero, não sendo lá a melhor base possível para um relacionamento de longo prazo que pretenda ser bem sucedido, mas você conhece alguns casais que se formaram com base no Eros, não é?

Vamos dar agora uma derivada e nos afastar da visão filosófica grega do amor. Nenhuma das três naturezas acima explica, por exemplo, a tal percepção de que “os opostos se atraem”. De onde surgiu esta noção? Todos também conhecemos casais que se enquadram nesta categoria e que não podem ser explicados pelo Eros (entenda esta frase como quiser).

Para esses casos existe a abordagem de Schopenhauer, que foi um filósofo alemão do século XIX. Para ele nós todos seríamos movidos por um impulso inconsciente chamado de “força de vida” que governaria nossas ações sem que percebêssemos com o objetivo perpetuar a vida. Uma das tendências geradas por esta “força de vida” seria a de buscar um parceiro que corrigisse nossas falhas conscientes ou inconscientes: uma pessoa tímida seria atraída por uma extrovertida, uma excessivamente racional seria atraída por uma emotiva e assim por diante. Atração de opostos.

Tudo bem. É um conceito interessante e pode explicar o impulso, mas é algo que se deva buscar conscientemente em um relacionamento? Pode ser bom para ter filhos “melhores” e ajudar a evoluir a espécie, mas não acho muito boa a ideia de convivência cotidiana com uma pessoa com características ou interesses diametralmente opostos aos seus. Na verdade, vejo como uma receita clara para o inferno. Novamente, todos nós conhecemos casais assim.

O que seria então a forma de amor a ser buscada? Na opinião de Rowlands (e eu concordo com ela, do contrário não a estaria apresentando aqui), o amor estável que forma os relacionamentos de longo prazo bem sucedidos é na realidade o Philia, embora com uma pitada do Eros.

Philia envolve um apreço mútuo entre as pessoas, correspondido e leal, em que um indivíduo busca o bem do outro e vice-versa. O conceito de Philia foi desenvolvido por Aristóteles e ele apresentou algumas das coisas que se deve buscar para uma base sólida para o Philia: uma pessoa que compartilhe de nossas disposições, que não guarde rancor, que busque os mesmos objetivos, que seja ponderada, justa e nos admire na mesma proporção com que a admiramos.

O Philia não pode emanar de pessoas briguentas, agressivas, fofoqueiras, injustas e assim por diante. Ou seja, boas pessoas serão bons amigos, namorados ou cônjuges e pessoas ruins, não. Simples assim. E se uma pessoa boa também for bonita, melhor ainda. Afinal, ninguém é de ferro...

É uma visão interessante e coerente e até o momento foi a melhor que encontrei. É óbvio que o amor é um sentimento impossível de se controlar, mas ouvindo o que alguns grandes pensadores têm a dizer a respeito, acredite que fique mais fácil compreendê-lo e talvez até direcioná-lo de uma forma melhor e para quem realmente mereça.

OBS - se você se interessar por ler sobre a abordagem filosófica do amor, veja:

domingo, 21 de novembro de 2010

A trilogia Millennium de Stieg Larsson

Andei lendo algumas coisas interessantes nos últimos tempos, mas uma que vale a pena registrar é a trilogia Millennium do sueco Stieg Larsson.

Não chegam a figurar na lista dos mais vendidos no Brasil, mas você vê a capa de pelo menos um dos três volumes com muita freqüência nas livrarias. Larsson foi um jornalista, falecido em 2004, aos 50 anos, que aparentemente não chegou a ver seus livros publicados e muito menos a saber que venderam mais de 15 milhões de cópias pelo mundo.
São três thrillers policiais com uma forte orientação política, em que os personagens principais são um jornalista (Mikael Blomkvist) e uma hacker desajustada (Lisbeth Salander). Até o momento eu li dois dos volumes: “Os homens que não amavam as mulheres” (tradução inspiradíssima do título original: “The girl with the dragon tatoo”), e “A menina que brincava com fogo” (aí sim, “The girl who played with fire”). Ainda falta ler “A rainha do castelo de ar” (“The girl who kicked the hornet’s nest”), mas como vou dar um tempo antes de começar este último, preferi fazer uns comentários assim mesmo.

O primeiro comentário, claro, é porque raios a editora no Brasil precisava bagunçar tanto os títulos? Eu li o primeiro em papel e o segundo no Kindle e quase comprei o primeiro volume em duplicidade por causa dessa zona com os nomes. E aliás, o nome do autor é Stieg ou Stig? Já vi capas impressas dos dois jeitos, dependendo da edição e da língua. Mas enfim, isso é secundário.

Demora um tempinho até você se acostumar com um texto sueco. Os nomes das pessoas e dos lugares são bizarros e no primeiro volume a coisa fica realmente confusa, tamanha a quantidade de personagens e a falta completa de noção que temos sobre se alguns nomes suecos são masculinos ou femininos (há até uma página com uma árvore genelógica para tentar facilitar, o que demonstra que o problema não é só meu), mas passadas umas cem páginas, dá para acostumar.

O primeiro volume trata de uma investigação de Blomkvist a respeito do desaparecimento de uma jovem mais de quarenta anos antes em uma cidade do interior da Suécia, em que é auxiliado por Salander. É realmente excelente e pode ser lido sozinho, mesmo que você não ache que vai ter paciência para as cerca de 1.500 páginas dos três volumes combinados. Como disse, é um thriller policial, mas tem uma pegada política e jornalística que deixa o texto muito interessante.

O segundo volume trata do envolvimento de Salander com o assassinato de dois jornalistas e da tentativa de Blomkvist de ajudá-la a provar sua inocência. Este fica meio estranho se lido sozinho e é um pouco inferior ao primeiro, mas também é acima da média.
Mesmo se você não estiver a fim de encarar a trilogia, leia o primeiro volume. É uma boa estória e vale a pena para ter um contato com um texto vindo de um lugar improvável como a Suécia. Assim que ler o terceiro volume, eu adicionarei aqui um comentário sobre ele também.

OBS – E por incrível que possa parecer, foi melhor ler no Kindle em inglês do que no papel em português. Para ler livros grandes, o Kindle é mesmo imbatível (no conforto e no preço do livro).

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O Filósofo e o Lobo

Existe uma tipo de livro que você só compra mesmo se alguém indicar. Daquele tipo que fica escondido na livraria, longe das pilhas de Ken Follet, Dan Brown e Paulo Coelho. Felizmente eu já adquiri há algum tempo a mania de ler resenhas em jornais e revistas e algums entrevistas com escritores, o que facilita bastante a tarefa de encontrar coisas boas que nunca vão chegar à lista dos 10 mais vendidos da semana.

A última boa surpresa foi “O Filósofo de o Lobo” de Mark Rowlands, que me chamou a atenção por uma entrevista de Rowlands ao Caderno 2 do Estadão. Eu tentei baixar no Kindle, mas não estava disponível e acabei esquecendo do livro, até que dei de cara com ele na Livraria da Vila. Por azar (ou incompetência do editor), o livro ganhou o subtítulo infeliz de “lições da natureza sobre amor, morte e felicidade”, o que espantaria qualquer pessoa de bom senso, mas eu comprei assim mesmo.

Em linhas gerais é uma espécie de autobiografia de um período específico de uns 12 anos da vida de Rowlands, em que viveu na companhia de um lobo que comprou ainda filhote, quando era um professor recém-formado de filosofia nos Estados Unidos, e que se tornou importantíssimo em sua vida e exerceu uma enorme influência em sua obra. Entretanto, o lado autobiográfico é apenas um pretexto para que Rowlands apresente o seu trabalho e reflexões sobre uma variedade grande de assuntos, incluindo morte e felicidade, como diz o famigerado subtítulo.

A melhor definição de Rowlands está na própria contra-capa, onde um comentário da Oprah Magazine o apresenta simpaticamente como um “misantropo colérico” - depois de umas 10 páginas você já concorda plenamente. Por outro lado, a clareza de seu raciocínio e a profundidade com que aborda cada questão levantada cativam rapidamente e fazem com que o texto conduza a reflexões no mínimo incomuns.

Cada tópico segue uma linha de abordagem baseada na comparação entre a condição humana e a do lobo (pelo menos, a de Brenin, este lobo específico), cruzando com referências a obras dos grandes filósofos de Aristóteles a Nietzsche, o que torna a leitura bem mais interessante que a de outros livros de “filosofia popular”. Eu gostei demais e recomendo – está naquele grupo seleto de obras que você dificilmente vai esquecer e que muito provavelmente vai ler novamente em alguns anos.

Finalizando, se você se interessou, leia logo. Pelo que estou sabendo, corre o sério risco de virar filme em breve e não vejo como possa escapar de se tornar um novo "Marley e eu", o que seria uma enorme, enorme injustiça.

PS – Relendo esse post, fico com uma impressão de que possa ter dado um ar pejorativo ao gupo “Ken Follet, Dan Brown e Paulo Coelho”. Não era essa minha intenção. Tenho pilhas de Ken Follet’s e Dan Brown’s na estante e seria hipócrita se disesse que não gosto deles. Só tenho ainda um certo preconceito contra o Paulo Coelho, mas um dia ainda crio coragem e leio alguma coisa dele (com tanta gente lendo, não é possível que seja ruim, não é?).

domingo, 8 de agosto de 2010

Lembretes

O tempo cura tudo, é verdade. O lado ruim disso é que o tempo o faz apagando ou alterando boa parte das nossas lembranças. Em grande medida, esta é uma das razões de ser deste blog - um registro rápido das impressões que um livro, um fime ou uma situação me causaram, feito quando essas impressões ainda eram frescas e sem sofrer com o desgaste do tempo.

No caso específico dos livros, o problema com esta idéia (é, ainda não me rendi à nova ortografia), é que foram lidos há muito tempo e, em muitos casos, nem tenho mais as cópias para dar uma relembrada.

Deste modo, resolvi que de tempos em tempos vou criar um post com uma relação de obras que gostaria de indicar para o Leo quando ele crescer, mas que ele vai ter que garimpar, pois já não estão mais na nossa prateleira. Quando possível, a indicação vai acompanhar um link para a Wikipedia ou uma outra referência para facilitar esse trabalho.

Começando, portanto:

- Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar
Livro fantástico, que me foi emprestado pelo falecido Prof. Ubaldo, amigo de minha sogra e revisor da minha dissertação de mestrado, a quem agradeço pela indicação inestimável. Uma das passagens que eu nunca esqueci: "Natura deficit, fortuna mutatur, deus omnia cernit" (numa tradução livre: "A natureza engana, a sorte muda, um imperador observa tudo do alto").

- A Escolha de Sofia, de Willian Styron
Também emprestado pelo Prof. Ubaldo. Novamente obrigado, obrigado! Quem consegue se esquecer do Nathan?

- Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago
Ainda não vi o filme, mas o livro é MUITO bom.

- Ponto de Mutação, filme baseado no livro homônimo de Fritjof Capra
Não li o livro, então não posso opinar, mas o filme é excelente. O problema é que é muito difícil de achar. Até hoje só foi lançado em VHS e não existe em DVD nem no exterior. O nome em inglês é Mindwalk.

- O Enigma do Quatro, de Ian Caldwell e Dustin Thomason
Romance que gira em torno do misterioso e controverso livro Hypnerotomachia Poliphili. Bem inferior à lista acima, mas é um romance muito bacana.

Por hoje é só isso. Eu espero postar mais algumas listas como essa aos poucos, mas até que fiquei bem satisfeito com esta aqui.

P.S. - Só por curiosidade, tentei encontrar os dois primeiros livros da lista na Cultura, mas ambos estavam "Esgotados na Editora". Bom sinal, porque quer dizer que são bons. Mau sinal, porque eu deveria ter xerocado antes de devolver...

Dia dos Pais

Como hoje é dia dos pais, resolvi mudar um pouquinho a linha do blog e publicar este post apenas para deixar registrada a obra-prima que ganhei do meu pimpolho...


Como se pode ver, é melhor continuar pagando escola para ele, pois a carreira de artista não é nada promissora ;-).

Feliz dia dos pais!


sábado, 3 de julho de 2010

O Andar do Bêbado

Ganhei uma cópia do livro "O Andar do Bêbado" (de Leonard Mlodinow - Editora Zahar) no Natal de 2009 e enrolei um pouco até começar a ler. Depois que comecei, acabei em menos de uma semana.

Não é um romance. É um livro escrito por um físico que dá aulas sobre Teoria da Aleatoriedade e trata sobre a influência do acaso e da aleatoriedade sobre a vida das pessoas. Apesar do tema parecer árido, a leitura é muito leve e bastante interessante, especialmente pelo uso de exemplos e casos reais muito simples.

Um dos exemplos usados é o caso da escolha das portas e a resposta de Marilyn vos Savant, que já havia visto em "O Estranho Caso do Cachorro Morto". Apenas para exemplificar, a questão apresentada nesse caso é a seguinte:

"Suponha que os participantes de um programa de auditório recebam a opção de escolher uma denter três portas: atrás de uma delas há um carro; atrás das outras há cabras. Depois que um dos participantes abre uma porta, o apresentador, que sabe o que há atrás de cada porta, abre uma das portas não escolhidas, revelando uma cabra. Ele diz então ao participante: "Você gostaria de mudar sua escolha para a outra porta fechada?". Para o participante, é vantajoso trocar sua escolha?"

Pare para pensar alguns minutos no caso e você vai ter o tipo de sensação de dúvida e curiosidade que cada um dos casos apresentados no livro gera. Já a sensação de ter as suas certezas desafiadas, só lendo a resposta. Outros casos envolvem loterias, médicos, julgamentos por júri, esportes, bolsa de valores e uma grande variedade de temas.

Uma das grandes virtudes do livro, em minha opinião, está em mesclar os casos estudados com a história do estudo das probabilidades e suas diversas abordagens ao longo do tempo, o que ajuda a criar uma seqüência lógica de tópicos e a encadear os assuntos, facilitando muito a leitura.

Justamente por tentar ser acessível a todo tipo de leitor, talvez uma falha seja a de não apresentar análises matemáticas para os problemas apresentados, o que poderia ser feito em um apêndice, mas nem por isso deixa de ser interessante mesmo para as pessoas que já tenham tido um contato mais aprofundado com estatística e teoria das probabilidades. É muito bom e recomendo.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O maldito "jeitinho"

Alguns meses atrás fui ao casamento de uma prima que estava de mudança para a Austrália. O comentário do meu pai a respeito foi: "Não entendo esse pessoal que sai do Brasil só por sair, mesmo sem ter nada acertado no outro país. Não consigo entender essa vontade de ir embora daqui. Estamos em um momento de grande potencial de crescimento, com muitas oportunidades aqui e o pessoal quer sair?".

Bom, tem dias em que eu entendo. Você escuta cada coisa no seu dia-a-dia que chega a desanimar, mesmo. Alguns exemplos:

1 - O sonegador

Em reunião hoje, com um cliente, o cidadão me disse o seguinte: "Ah, mas eu não pago ICMS não. Eu vendo tudo com nota, mas não pago não. Uns anos atrás, na época do Covas eu estava devendo mais de R$ 350.000,00 para o estado e veio uma anistia. Acabei pagando só R$ 50.000,00. Os próprios fiscais já falam para dar uma barrigada no imposto que logo, logo vem uma anistia...".

Pôrra. E está certo isso? O governo premia o picareta?

E não é só ICMS não. Também conheço gente que não paga nem o IPTU, porque a cada 4 ou 5 anos rola uma renegociação e acabam pagando só uma fração.

E nós que pagamos tudo direitinho? Somos o quê? Otários? E os concorrentes desse cara, competem como com ele?

2 - O espertão

Jantando com um pessoal (que nem conhecia, aliás), na 5a feira passada, me aparece uma advogada metida a esperta contando toda risonha como convenceu o pai dela a sair de um congestionamento na estrada pegando o acostamento. "Ah", disse ela, "não fava para ficar 3 horas no trânsito com a minha filha reclamando na minha cabeça".

Pôrra. E a gente que fica na fila? Somos o quê? Manés?

3 - O estádio

Li ontem no Lance o caso de um camarada que comprou 3 ingressos na numerada do Pacaembu e não consegiu sentar. Chamou um policial, mas não resolveu nada. Isso também me aconteceu várias vezes no Morumbi: você compra o lugar numerado na área mais cara, cheia de placas de "respeite o seu lugar", mas tem um bosta sentado na sua cadeira que não sai. Aí é você que tem que sentar na cadeira de outra pessoa e ficar lá, torcendo para o dono não aparecer, pois senão quem vai ter que fazer o papel do filho da puta é você.

E adianta chamar o segurança ou o policial? Não. Porque não resolvem merda nenhuma. E o povo do caralho que está sentado em volta ainda dá razão pro cara que está no seu lugar e você toma uma vaia.

4 - O porco

No sábado fui no Simba Safari com meu filho. Não é que tem nego que fura a fila de carros dentro do Simba Safari? O cara está lá para quê? Para apostar corrida?

Na saída tem uma lanchonetezinha. Paramos para comer um sorvete e estava lá um moleque de uns 10 anos com os pais. O pôrra do moleque abriu um salgado e jogou o papel no meio de um jardim que tem por ali. Cara, JURO POR DEUS, tinha 5 lixeiras daquelas coloridas, para lixo reciclável, à vista. O moleque teria que dar 5 passos para chegar na mais próxima, mas jogou o papel no jardim, na maior, bem na cara de um senhor de uns 50 anos que estava fazendo a limpeza.

Os pais deste bostinha lhe deram uma bronca? Não. Nem se tocaram, pois no mínimo isso é o normal para eles.

Enfim, tem dia que dá desânimo mesmo. Dá vontade de ir embora e deixar que esse povo corrupto, safado, porco e sem educação se afunde na própria merda. Mas tem um problema: desistir significaria que essa parcela escrota da população venceu...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Os Espiões

Às vezes você pega uma seqüência de literatura estrangeira, mesmo que seja de livros em português, e quando volta aos escritores brasileiros acaba sofrendo um choque. É impressionante como a leitura de autores nacionais flui com muito mais naturalidade (e velocidade) que a dos estrangeiros.

Acabei de ler "Os Espiões" do Luís Fernando Veríssimo. É sensacional. Conta a estória de um revisor de uma editora pequena, que passa a vida entre o boteco e escritório, recusando textos de autores em busca de uma oportunidade de publicação, até que começa a receber alguns manuscritos interessantes e resolve investigar a autora. Para conseguir levar a investigação adiante, monta, então, uma operação com os amigos de cachaça e enviam "agentes" até a cidade de onde os manuscritos são enviados.

É curto, é bom e é muito engraçado. Vale a pena, especialmente para os neuróticos que só lêem livros de negócios e que precisam ser lembrados de como é ler por prazer (e como é rápido, não dá nem tempo para os realmente neuróticos ficarem com remorso por largar aquela biografia de 1.000 páginas do Jack Welsh no meio).

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Without Remorse

Voltando a postar depois de uns 45 dias... Não que não tenha visto nada de interessante, mas é que o verão dá preguiça.

O primeiro livro que li neste período foi também o primeiro que li no Kindle: "Without Remorse" do Tom Clancy. Muita gente torce o nariz para o cara, mas dando um desconto para o seu americanismo e paixonite por uma guerrinha, os seus livros costumam ser uma boa (e longa) leitura.

O livro se passa nos anos finais da guerra do Vietnam e conta a história de John Kelly, um ex-marine (surpresa!) que está afastado, mas que acaba sendo chamado de volta para a ativa (surpresa!), para dar mais uma contribuição para seu país (surpresa!).

Em paralelo, Kelly se envolve com uma quadrilha de traficantes de drogas que mata sua namorada e parte em uma caçada solitária para fazer justiça com as próprias mãos (uau! surpresa!).

Tirando a babaquice, é uma boa história, mas é interessante especificamente por conta como o tal Kelly se tornou John Clark (personagem recorrente nos demais livros de Clancy e o principal em Rainbow 6), e como ele foi parar na CIA.

Há também uma breve aparição de Jack Ryan, que você já conhece dos filmes Caçada ao Outubro Vermelho, Jogos Patrióticos, Perigo Real e Imediato e de mais uma série de livros de Clancy.

Em suma, é um livro razoável, interessante mas um pouco longo. Classificaria como bom para os fans de Tom Clancy, mas dispensável para os demais. Para quem não teve contato com Tom Clancy ainda, acho que existem melhores. Fora os que citei acima e que viraram filmes, vão alguns bons:

- Red Rabbit
- Rainbow 6
- The Bear and The Dragon
- Teeth of the Tiger

Se você tiver interesse em ler algo do Tom Clancy, só tome cuidado com as "franquias" dele, que são normalmente bem inferiores, como as séries "Op Center" e "Politika".

OBS - e ler um livro enorme desses no Kindle é uma beleza e muito barato (paguei menos de US$ 8,00 pelo livro). Tirando que você pode levar no carro e colocar em text-to-speech para ir ouvindo no congestionamento.