sexta-feira, 18 de março de 2011

Platão, o "Admirável Mundo Novo" e um congestionamento

Uns dias atrás assinei o podcast de um programa semanal da rádio australiana ABC chamado "The Philosopher's Zone". É, é estranho mesmo, mas surpreendentemente bom. Discute "o mundo da filosofia e o mundo através da filosofia" e aborda temas muito variados, dos clássicos até atualidades como Wikileaks ou bio-tecnologia. Vale a pena. O site é: http://www.abc.net.au/rn/philosopherszone/, mas o podcast pode ser encontrado na iTunes Store. Infelizmente, o podcast não inclui todos os episódios (hoje, por exemplo, só há 8 disponíveis), mas no site dá para baixar todos, desde 2005, além de ser possível ler as transcrições na íntegra.

Bom, como só haviam 8 episódios no podcast e o trânsito em São Paulo anda um troço bisonho, assinei também um outro chamado "Philosophy: The Classics". Este parou de ser atualizado em 2007, mas há 17 episódios disponíveis, baseados em capítulos do livro homônimo de Nigel Warburton. Também é muito bom. Os áudios são focados nos clássicos, como Platão, Kant, Rousseau e Descartes e são muito claros e bem gravados. O site de referência é: http://www.virtualphilosopher.com/.

O primeiro episódio de "Philosophy: The Classics" é sobre Platão. Narra os conceitos básicos de uma forma, como disse, bem clara. São interessantes e um pouco chocantes os conceitos e idéias que formam o modelo de sociedade utópica apresentada por Platão em "A República", com os quais eu só havia tido um contato breve durante as aulas de filosofia do colegial, mas que agora adquirem contornos muito diferentes.

Uma das coisas que me chamaram a atenção, talvez influenciado pelo excesso de CO2 no congestionamento da Av. Brasil desta noite, foi a semelhança entre sua utopia com a distopia apresentada por Aldous Huxley em "Admirável Mundo Novo". Se você já leu, ouça ao podcast e confira (mais fácil que ler "A República").

Mas só para ter certeza de que eu não estava viajando na maionese e escrevendo uma asneira, resolvi usar o Google Scholar e pesquisar esta correlação (se nunca usou, experimente também: http://www.scholar.google.com/) . E não é que existe mesmo? Encontrei uma dissertação de mestrado da UFRGS de 2009 de Maurício Moraes Wojciekowski (esse sobrenome conseguiu sobrecarregar o corretor ortográfico do Word...), que trata exatamente deste tema, em: http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/17521. Caso já tenha tido algum contato com "A República" e o "Admirável Mundo Novo", acho que vale a pena dar uma lida, mesmo que seja nas tabelas comparativas do final do trabalho. Acabo de fazê-lo e vou dormir feliz, sabendo que o CO2 ainda não fritou meus últimos neurônios.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Ken Follett e o "Mundo Sem Fim"

Existem alguns escritores que escrevem em escala industrial. Eles publicam tanto, que acho que a única explicação é terem uma bela equipe por trás, fazendo pesquisa e escrevendo boa parte dos textos. Uns exemplos são: Tom Clancy, John Grisham e Ken Follett.

Enquanto Clancy é especializado em livros de espionagem e ações militares e Grisham é especializado em livros sobre advogados e processos, Ken Follett é algo à parte. Ele escreve sobre temas absolutamente díspares e em geral o faz de forma muito competente, mas prefiro os seus romances históricos.

Acabo de ler "Mundo Sem Fim", que é um desses romances. O livro se passa algumas gerações após "Os Pilares da Terra", durante o século XIV (época da Peste Negra e de umas das várias guerras entre Inglaterra e França), na cidade fictícia de Kingsbridge na Inglaterra e envolve um grupo de 5 personagens principais: um arquiteto/construtor, um cavaleiro, um monge, uma camponesa e uma "médica", cujas vidas vão se entrelaçando ao longo do texto. A trama é muito bem concebida e complexa o suficiente para não ser possível condensar em um filme e muito menos resumir aqui. Basta dizer que é muito boa e faz valer a pena as mais de 900 páginas da versão em português.
Além disso, as descrições dos costumes da época, das cenas de batalha, das disputas jurídicas, dos detalhes de arquitetura, das particularidades da medicina e do comércio são cuidadosas e detalhadas, colaborando muito com a verossimilhança da estória, de modo que mesmo que o leitor não goste da trama, certamente acaba pelo menos aprendendo algumas coisas novas e não vai ficar com a sensação de ter perdido seu tempo com o livro.

E é isso que é interessante no caso de Ken Follett. Ele pode escrever livros bons e longos, que obviamente demandaram muita dedicação e pesquisa, como pode escrever livros absolutamente descartáveis. Vai, então, a minha classificação pessoal sobre os que li:

- "Noite Sobre as Águas" - mediano;

- "Código Explosivo" - descartável (não consigo nem me lembrar direito do que se tratava, o que é um mau sinal);

- "O Homem de São Petesburgo" - médio para bom, embora a trama tenha algumas coincidências infantis, do tipo de novela mexicana, que seriam bem dispensáveis;

- "O Vôo da Vespa" - descartável, também.

- "O Buraco da Agulha" - pelo menos bom, mas como já li há muito tempo, posso estar sendo injusto e pode ser ótimo. Mas sei que merece ser lido de novo.

Ken Follett tem um site oficial, onde pode-se ler os primeiros capítulos dos livros e identificar os títulos e editoras em cada país. É o: http://www.ken-follett.com/

Ainda não li o mais recente "Queda de Gigantes", mas só ouvi falar bem por enquanto. Assim que ler, digo o que achei. Mas, pelo tamanho, vai demorar um bocado.