sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Dragão de Gelo

Entre 1976 e 1996, ou seja, antes de se tornar um sucesso com as “Crônicas de Gelo e Fogo” / “A Guerra dos Tronos”, George R. R. Martin publicou diversos romances e contos, alguns muito premiados. No meio desta bibliografia, achei um único livro para o público infanto-juvenil e comprei na semana passada: “O Dragão de Gelo” (Editora Leya Brasil, 2014). 



Não tinha escrito sobre livros infantis aqui até hoje, mas depois de ver uma vendedora da livraria onde comprei “O Dragão de Gelo” empurrando umas porcarias para um casal que procurava um presente bacana para um sobrinho, achei que não faria mal deixar umas dicas para pais e tios perdidos no meio de tanto livro caro e inútil que vendem por aí. 

Experimente entrar na seção infantil de uma grande rede: está cheia de livros coloridões, enormes, com origamis que se armam sozinhos, botões que fazem barulhinho, com bichos peludinhos para passar a mão, à prova d’água, com quebra-cabeças, CDs, DVDs e tudo mais que se possa imaginar, mas bem pouca coisa que dê para ler de verdade. E acredite, ainda existem crianças que gostam de ler ou ouvir uma boa estória. 

“O Dragão de Gelo” é uma boa estória. Escrita em 1980, conta sobre uma menininha chamada Adara, que mora em uma fazenda com o pai e dois irmãos mais velhos. Segundo seu pai, Adara foi tocada no parto pelo mesmo frio do inverno que levou sua mãe, tornando-se uma criança de mãos e coração gelados, que sempre manteve uma certa distância de sua família e que cresceu deslocada, preferindo a solidão e o inverno à companhia de outras crianças e o calor do verão. 

Ao fazer quatro anos, Adara encontra um dragão de gelo, que passa a aparecer todos os invernos, na época de seu aniversário. Após algum tempo, experimenta cavalgar o dragão, passando a voar com ele, tornando-se sua amiga. 

Simultaneamente, uma guerra que vem sendo travada há anos ao norte começa a se aproximar perigosamente da vila de Adara, mas o pai insiste em permanecer na fazenda, a despeito de todas as recomendações de seu irmão, cavaleiro de dragão das tropas reais. Evidentemente, a guerra um dia chegará até Adara e sua família e uma sequencia de acontecimentos a transformará. 

Há alguma discussão sobre se o universo em que se passa “O Dragão de Gelo” é o mesmo de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, mas eu entendo que não. Estamos falando de invernos normais, de poucos meses, embora alguns elementos realmente remetam a Westeros. 

Não é um livro para crianças pequenas – acho que no mínimo para 7 ou 8 anos. Não se deve esquecer quem é o autor, mas garanto que leva mais de 80 páginas para morrer alguém e as ilustrações da edição de 2014 são fantásticas, embora possam assustar um pouco os menores. São apenas 8 capítulos e dá para ler com as crianças em umas 4 noites. Gostei bastante e recomendo.

Em tempo, um conselho para quem não tem filhos: livros gigantes podem parecer bonitos e interessantes e podem ser ótimos  como decoração de lojas, mas são uma desgraça para guardar em estantes. Se não cabe em uma estante normal, não compre. O pai da criança presenteada vai lembrar de você e querer sapecar o livrão na sua cabeça a cada vez que vir o infeliz transbordando da prateleira.