quinta-feira, 27 de novembro de 2014

There is a time, and a place.

E no sábado, ele acordou cedo. Os presentes recebidos na festa da véspera ainda no carro, estacionado na garagem do sobrado apenas algumas poucas horas antes. As fotos com família e melhores amigos ainda no cartão de memória da máquina, pela primeira vez operada com orgulho pelo seu primeiro orgulho, de apenas 7 anos, mas frequentemente mais maduro que ele.

Maturidade. A palavra tinha um gosto estranho e um toque amargo, como o do adoçante sintético que substituiu o açúcar de seu café aos 38. Agora, finalmente aos 40, estendia os seus dedos escuros e frios para inexoravelmente apertar um coração que ainda se recusava a aceita-la de todo, ancorado à nostalgia de um tempo mais simples e bagagem mais leve. 

Pegou suas malas, despediu-se de seus três tesouros e desceu as escadas, encontrando o irmão que já esperava no táxi, pronto para a antecipada, esperada e negociada viagem até a ilha, seu provável último ato de absoluta irresponsabilidade. 

Oito dias, onze mergulhos, treze amigos e dois irmãos. 

E o tempo parou. Acima de qualquer expectativa e contra qualquer possibilidade, retrocedeu. Dias perfeitos, noites de adolescente, amizades de infância e absolutamente nada no horizonte. Uma semana de julho de 93 e não de novembro de 14. 

E no crepúsculo de sua última tarde a epifania bateu. Exausto, à beira de uma água inesquecível e sobre areias eternas, com a companhia solitária de bandas esquecidas e músicos mortos, aguardando que o sol parasse de se debater e finalmente se entregasse ao mar caribenho, ele foi tocado pela perfeição infinita daquele instante, da simplicidade e da leveza. Sentiu notas ancestrais, ocultas e esquecidas por décadas no fundo de sua alma reverberando pela primeira vez. 

E o relógio voltou a andar. E, em algumas horas, estava de volta ao sobrado e aos seus tesouros, absorto na intensa felicidade do reencontro. 

Mas então, no silêncio da primeira noite, a angústia. A epifania cobrava seu preço. Ao final da segunda noite insone, a ressonância crescente finalmente cumpriu seu papel e partiu o cristal de sua alma num espasmo de dor. E ele se foi para sempre. Para a ilha, que o aguardava e acolhia e onde o relógio nunca mais voltou a andar. 

Closure. 

Ele se foi e eu fiquei. Livre para cuidar dos meus tesouros. Finalmente livre do fantasma nietzscheneano do eterno retorno, que agora abraço sem medo. Consciente de minhas escolhas. Certo de que faria tudo de novo. E no sono profundo da terceira noite, a mão negra e fria que antes ameaçava se transforma na mãozinha quente e macia de meu segundo orgulho, tocando com delicadeza meu rosto e pedindo por meu carinho. 



...



You must kill the boy, Jon Snow.

Done.