sábado, 8 de outubro de 2011

Thanks, Steve!

No dia 25 de dezembro de 1985 meu presente foi uma caixa de papelão ondulado com uma maçã impressa e um Apple II+ (http://pt.wikipedia.org/wiki/Apple_II%2B) dentro. Naquela época, tempo da reserva de informática no Brasil, o Apple II+ era fabricado aqui mesmo, pela Milmar em Manaus, no caso do meu. Havia também produção do Apple IIe pela Microdigital e recebia o nome de TK-3000 (http://pt.wikipedia.org/wiki/TK3000_IIe), mas que era bem mais difundido.

A primeira lembrança que eu tenho de quando o tirei da caixa foi a seguinte: “Onde é que eu vou ligar essa porcaria de tomada de 3 pinos?”. Dá para imaginar a frustração, especialmente por ser Natal e estar tudo fechado em São Paulo. Mas como criança nasce sabendo que pentelhar bastante os pais resolve qualquer parada, convenci o meu a atravessar a cidade até o consultório dentário da minha mãe para desmontar uma das tomadas 220V dela e instalá-la no meu quarto.

Ato contínuo, o computador foi ligado e a paixão começou. O Apple era ligado a uma TV branco-e-preta de 14” de válvula, que levava cerca de um minuto para esquentar e começar a exibir imagens (se bem que, mesmo assim, ainda era mais rápido de ligar do que o PC com Windows 7 que uso agora).

Passei as primeiras semanas de 1986 destrinchando o manual e digitando os programas de exemplo em Basic que vinham com ele. Como não tinha um drive de floppy, tentei usar um rádio-gravador Sharp mono ligado na entrada e saída de áudio do Apple para poder gravar os programas, mas a qualidade do gravador e do cabo eram péssimas, nunca chegou a funcionar.

As coisas melhoraram quando ganhei, uns meses depois, um gravadorzinho especial para computadores que a Gradiente produzia para a linha MSX deles (Lembra dos Expert e Hot-bit?). Com ele já conseguia gravar os programas em fita e também pude começar a comprar algumas da Engesoft, com programas mais sofisticados já prontos.

Em novembro de 86, quando fiz 12 anos, ganhei uma caixa prata enorme da Elebra. O que tinha dentro? Um drive de floppy 5 1/4" modelo Horácio, com a placa de interface. Era um treco grande, barulhento, lento, que só lia uma face do disco, mas que funcionava bem demais e nunca me deixou na mão. Infelizmente, eu fiz a besteira de trocar uns anos depois por um modelo slim da Unitron usado, que era bem mais silencioso e lia as duas faces, mas que tinha um problema na porta e vivia falhando. Tinha, não. Tem. E vivia, não. Vive. Se arrependimento matasse...

Em 87 um dos meus amigos usuários de Apple mudou para os EUA e me vendeu sua impressora matricial Epson LX-800 antes de viajar. Se o Horácio era barulhento, a Epson era trezentas vezes pior, mas para mim era um show. Imprimia de tudo: de trabalho de escola até anúncio de bailinho no condomínio. Feito com Print Shop e impresso em papel colorido, está pensando o quê?

Eu era fissurado: comprava as revistas importadas sobre os computadores da Apple (lia Nibble, InCider, A+); comprava as Input brasileiras e xingava porque quase tudo era para TK; comprava livros de Visicalc, Basic, Logo e programação de jogos; e cheguei ao fundo do poço quando comprei um software de programação Assembly chamado LISA e um livro sobre Assembly para o 6502.

Em 89 a coisa mudou. Comprei um PC-XT usado e o Apple foi para o armário, de onde só sai em ocasiões especiais. Como fez na quarta-feira passada, dia 05 de outubro de 2011, para tirar sua última fotografia. O dia em que finalmente entendi como foi, para a geração de meus pais, perder John Lennon.