domingo, 24 de março de 2019

The Coddling of the American Mind – How Good Intentions and Bad Ideas are Setting Up a Generation for Failure

Há um fenômeno novo ocorrendo nas universidades americanas e que vem preocupando seus professores e administradores: ações organizadas por estudantes para impedir palestras de convidados externos que defendam opiniões controversas ou vistas como hostis às suas próprias. Estas ações vão de protestos dentro dos auditórios ao bloqueio do acesso às salas e manifestações mais violentas, com depredação de patrimônio das universidades e agressões físicas. O primeiro destes movimentos a cruzar a linha do uso explícito de violência ocorreu em Berkeley em fevereiro de 2017, com a chamada “Milo Riot” (que recebeu este nome por se tratar de um protesto contra a palestra que seria proferida por Milo Yiannopoulos, um jovem inglês homossexual, apoiador de Trump e com um talento incomum na arte de provocar opositores ao extremo para então usar as reações em benefício de sua própria agenda). Teve todo o arsenal comum das ações black blocs a que nos acostumamos por aqui: coquetéis molotov, ataques a policiais, destruição de caixas eletrônicos, etc. O que foi particularmente perturbador nesse caso foi a justificativa de alguns dos estudantes envolvidos entrevistados posteriormente: a violência física das manifestações seria uma forma legítima de “autodefesa” contra a potencial agressão intelectual representada pela fala do convidado. 

Já em 2014, mudanças de comportamento nos campi universitários americanos chamaram a atenção de Greg Lukianoff, CEO da Foundation for Individual Rights in Education (FIRE) e de Jonathan Haidt, PhD em psicologia social e professor de liderança ética na Universidade de Nova York, levando-os a escrever em 2015 um artigo de grande repercussão sobre o tema para o The Atlantic. Desde então, a escalada na frequência e gravidade desse tipo de ocorrência nos EUA ao longo dos últimos 2 anos os levou a buscar aprofundar sua compreensão do cenário, analisar suas causas e escrever o livro “The Coddling of the American Mind – How Good Intentions and Bad Ideas are Setting Up a Generation for Failure” (algo como “Mimando a mente americana – como boas intenções e péssimas ideias estão condenando uma geração ao fracasso”). O livro é obviamente novo, mas tem sido muito elogiado por pessoas como Steven Pinker e foi escolhido como o melhor livro de 2018 pela Bloomberg. Conta a história de um tempo estranho e perturbador, em que muitas instituições estão funcionando mal, a confiança vem caindo e uma nova geração (a iGen ou Geração Z - os pós-Millenials), está apenas começando a se formar no ensino superior e a entrar no mercado de trabalho. 



É uma obra focada principalmente na sociedade americana e que analisa eventos ocorridos em instituições americanas, de modo que talvez não venha a ser traduzido para o português tão logo, mas eu sinceramente recomendo a todos que, como eu, têm filhos iGen – posso estar errado, mas temo que o mesmo tipo de movimentação vista nos EUA em breve estará chegando às nossas universidades, uma vez que os aspectos sociais e políticos descritos pelos autores como as razões fundamentais dos fenômenos observados são muito similares aos percebidos atualmente no Brasil (veja a parte III abaixo). Como todo livro bom, é muito difícil de resumir e nenhum resumo substitui a leitura do original, mas as principais ideias apresentadas podem ser resumidas em 4 partes: ideias ruins, seus efeitos, como chegamos a elas e como resolver o problema. 

1 – As péssimas ideias 

Na primeira parte do livro os autores apresentam as ferramentas intelectuais de que o leitor precisa para compreender a nova cultura de “segurança” que vem sendo incorporados à vida dos campi americanos a partir de 2013 e que possibilitam reconhecer o que chamam de as Três Grandes Falácias (ou inverdades, para uma tradução mais precisa). 

A primeira Grande Falácia é a da Fragilidade: crianças e adolescentes são criados hoje em uma cultura de superproteção que, na esteira da paranoia pela criação de espaços e ambientes seguros, as está isolando da exposição a situações e experiências que são fundamentais para a formação de adultos fortes e resilientes. Um exemplo clínico é o caso do banimento de produtos derivados de amendoim nas escolas americanas em meados da década de 90: em vez de diminuir, a taxa de crianças que desenvolveram alergia a amendoim em 2018 foi o triplo do que era observado quando a norma foi implantada. Um estudo publicado pela LEAP (Learn Early About Peanut Allergy) demonstrou que a falta de exposição ao amendoim estava agravando o problema, em vez de amenizá-lo. Como colocado por um dos pesquisadores da LEAP em uma entrevista: 

“Por décadas os alergistas vêm recomendando que crianças pequenas evitem o consumo de alimentos com presença de substâncias alergênicas como amendoim, como uma forma de se prevenir o desenvolvimento de alergias alimentares. Nossas descobertas sugerem que esse conselho seja incorreto e que possa ter contribuído para o aumento da incidência de alergias ao amendoim e outros alimentos” 

Esse é o conceito fundamental em que se baseia a “hipótese da higiene”, a principal hipótese explicativa de porque as taxas de alergias aumentam conforme os países se tornam mais limpos e saudáveis. Segue a explicação desta hipótese por Alison Gopnik e sua extrapolação para o tema de que trata o livro: 

“Graças à higiene, aos antibióticos e a pouca brincadeira fora de casa, as crianças não são tão expostas a micróbios como eram. Isso pode levá-las a desenvolver sistemas imunológicos que reagem de forma exagerada a substâncias que não são verdadeiramente nocivas, causando alergias. Do mesmo modo, ao se isolar as crianças de qualquer risco possível, pode-se levá-las a reagir com medo exagerado frente a situações que não apresentam qualquer risco real e assim impedir que desenvolvam habilidades que lhes serão necessárias na idade adulta.” 

Os autores contam como essa cultura de “segurança” se instaurou na sociedade e como o conceito se infiltrou por outros aspectos da vida americana, ao ponto de, por exemplo, elevar desconforto emocional ao status de perigo equivalente ao de um risco físico - justamente o argumento apresentado no primeiro parágrafo deste post pelo estudante questionado sobre sua participação na Milo Riot. 

A segunda Grande Falácia é a da “Racionalização Emocional”, ou “sempre confie em seus sentimentos”, uma distorção cognitiva que vem se difundindo ao longo dos últimos anos, inclusive por meio da difusão de algumas linhas de livros de autoajuda. Basicamente trata-se de racionalizar, intencionalmente ou não, as emoções de modo que o seu lado racional atue no sentido de sempre buscar elaborar uma teoria para validar uma resposta emocional em vez de questioná-la. Para quem leu “Rápido e Devagar de Daniel Kahneman”, seria como ter o seu sistema racional (lento) sempre submisso ao sistema emocional (rápido). Um exemplo de consequência dessa falácia é a difusão do conceito de “microagressões”. 

Microagressão refere-se a uma forma de se interpretar pequenas indignidades e atos falhos de comunicação contra minorias. Pequenos atos de agressão são reais e o termo poderia ser útil, mas passou a incorporar também pequenas ofensas acidentais e não intencionais, de modo que o uso do termo “agressão” é infeliz. Olhar o mundo permanentemente sob as lentes do conceito de microagressão significa interpretar situações do dia-a-dia sempre da forma mais negativa possível (se eu posso interpretar este comentário do meu colega como racista, é porque foi racista mesmo), amplia a dor experimentada por minorias e escala conflitos desnecessária e injustamente. 

A terceira Grande Falácia é a de que “a vida é uma eterna batalha entre pessoas boas e más”, ou seja a falácia do “Nós contra Eles”. Essa falácia está no centro do efeito de polarização que vemos nas sociedades atuais e já escrevi bastante sobre isso no post sobre o livro “Moral Tribes”, de modo que não vou me alongar nesse tópico. Basta reproduzir a frase do rabino Lord Jonathan Sacks no livro “Not in God’s Name”: 

“Existe um dualismo moral que vê o bem e o mal como instintos dentro de nós e que nos forçam a uma escolha entre os dois. Mas existe também o que eu chamo de dualismo patológico, que vê a humanidade em si como radicalmente dividida entre os impecavelmente bons e os irremediavelmente maus. Você não é nem uma coisa nem outra.” 

2 – Os efeitos 

Na parte II, os autores apresentam as 3 falácias em ação e suas consequências nos campi: bloqueios a palestras, intimidação e violência física ocasional e como estas ocorrências estão tornando difícil a tarefa de educação e pesquisa das universidades. Por serem eventos muito específicos dos Estados Unidos, também não vou aprofundar esta parte, mas quem tiver interesse pode buscar artigos sobre os seguintes eventos:






3 – Como chegamos a isso? 

Na parte III são identificadas 6 fenômenos que explicam as mudanças rápidas de comportamento nos campi entre 2013 e 2017 e que tiveram enorme impacto na geração iGen. É o trecho mais relevante para os pais da minha geração e pode ser facilmente percebido o paralelo com fenômenos similares observados no Brasil: 

- O ciclo de polarização – Os EUA vêm experimentando um aumento constante da polarização partidária desde de os anos 80: uma polarização emocional que leva as pessoas que se identificam com um dos seus dois principais partidos a odiar e temer de forma crescente o partido oposto e seus apoiadores. Este fenômeno ajuda a entender as mudanças nos campi: a polarização partidária nos EUA em geral é praticamente simétrica, mas os estudantes e professores universitários tendem mais à esquerda. Deste modo, universidades são naturalmente mais propensas a se tornarem alvos de hostilidade e desconfiança por parte de conservadores e organizações com tendências de direita. O número de professores assediados ou atacados pela direita em razão de ideias expressas em entrevistas ou redes sociais começou a aumentar a partir de 2016, afetando nitidamente seu comportamento e criando um ambiente em que estão constantemente “pisando em ovos” ao expressar suas opiniões. 

- Ansiedade e depressão – Considera-se 1995 como o ano do nascimento da geração iGen. Em 2006, quando o primeiro iGen fazia 11 anos de idade, o Facebook alterou sua política de requisitos para adesão e deixou de exigir comprovação de matrícula em uma faculdade. A partir daí, qualquer pessoa a partir de 13 anos de idade (ou crianças mentindo a idade) passou a poder aderir. Entretanto, Facebook e mídias sociais em geral não atraíam muita atenção até a introdução do iPhone em 2007. Desde então, ao longo do período compreendido entre 2007 e 2012, a vida social do adolescente americano médio passou por uma mudança muito significativa – os iGen’s são a primeira geração totalmente imersa no enorme experimento social e comercial representado pelas mídias sociais. Não se pode afirmar categoricamente a correlação, mas é fato que os iGen’s apresentam taxas muito mais altas de ansiedade e depressão (especialmente as meninas, cujas taxas de suicídio dobraram desde 2007). As meninas podem estar sofrendo mais por serem mais afetadas por comparações sociais (percepções de realidade distorcidas por exemplo por fotos com beleza ampliada digitalmente), por sinais de que estão sendo deixadas de fora de grupos ou perdendo alguma coisa importante (FOMO – fear of missing out) e por bullying e agressões, todas situações muito mais difíceis de ignorar quando se porta um celular com acesso permanente às redes sociais. 

A chegada dos iGen’s às universidades coincide de forma exata com a intensificação da cultura de “segurança” nos campi e os iGen’s podem ser especialmente atraídos para ambientes de cultura superprotetora. Esta afinidade entre os iGen’s e ambientes “seguros” tem o reflexo de realimentar o ciclo de expansão da cultura de “segurança”, podendo ser entendido como um incentivo às universidades para adotar esse padrão em suas estruturas como uma ferramenta de atração e retenção de alunos, em detrimento do livre debate de ideias. 

- Pais paranoicos – Quando as crianças são superprotegidas, estão sendo prejudicadas. Crianças são naturalmente antifrágeis, no sentido da definição apresentada por Nassim Nicholas Taleb em seu livro “The Black Swan”: elas precisam de situações de stress e desafio para aprenderem, adaptarem-se e crescerem. A superproteção as torna mais fracas e menos resilientes. Comparadas com gerações anteriores, as crianças iGen têm nitidamente menos tempo para brincadeiras não-supervisionadas por adultos, possibilidades de exploração por conta própria e exposição a desafios, riscos e experiências negativas que ajudariam a torná-las adultos mais fortes, competentes e independentes. Além disso, leis e normas sociais superprotetoras bem-intencionadas, mas que dificultam ou impedem que se deixe crianças sem supervisão, podem estar impactando de forma negativa a saúde mental e a resiliência dos jovens de hoje. A criação por pais paranoicos faz com que as crianças abracem as Três Falácias desde cedo. Quando chegam à faculdade, então, são naturalmente seduzidas pela cultura de “segurança” e tendem a reagir negativamente à exposição de ideias e conceitos contrários aos seus, interpretando-os como agressão. 

- O declínio das brincadeiras – Crianças, como os demais mamíferos, precisam de tempo para brincar livremente e interagir em ambientes sem regras para finalizar a formação de seu complexo sistema neural. Crianças privadas de tempo para brincar são propensas a tornarem-se adultos menos competentes física e socialmente, menos tolerantes a riscos e mais suscetíveis a problemas de ansiedade. O declínio do tempo livre para brincar é causado por várias tendências, como um medo exagerado de estranhos e sequestros, o aumento da competitividade e exigências nos processos de admissão em universidades, o aumento da ênfase em atividades extracurriculares e lições de casa mesmo em idades mais tenras e a correspondente perda de ênfase em habilidades não acadêmicas. Além disso, o advento da disponibilidade smartphones e mídias sociais em combinação com estas tendências, vem mudando a forma como as crianças (americanas e brasileiras) gastam seu tempo e afetando os tipos de interação social e física que guiam o intrincado processo de formação e amadurecimento do sistema neurológico. 

- O crescimento da burocracia nos campi – A expansão de uma cultura de “espaços seguros” nos campi geralmente é oriunda de boas intenções, mas pode acarretar consequências ruins para os alunos. Nos Estados Unidos, uma onda crescente de ações legais contra universidades e também pressões de mercado por resultados, transformaram diversas instituições em empresas particularmente preocupadas em agradar a seus “clientes” e este fenômeno vem tendo efeito negativos sobre a liberdade de expressão em seus ambientes. Esforços para proteger estudantes por meio da criação de estruturas burocráticas formais para resolução de problemas e conflitos podem ter consequências não intencionais no sentido de ampliar dependência moral dos alunos e solapar as suas habilidades de resolver conflitos de forma direta e independente tanto ao longo dos cursos como após a graduação. 

- A busca por justiça – Eventos políticos ocorridos nos últimos anos tiveram um forte impacto emocional sobre os adolescentes em formação que estão hoje chegando às faculdades. Estes estudantes respondem a estes eventos com um forte compromisso com o ativismo em prol de justiça social. As noções intuitivas de justiça são de duas naturezas: distributiva (a percepção de que as pessoas estão recebendo o que merecem) e procedural (a percepção de que o processo e as regras são justos e confiáveis). O tema da justiça social é um conceito central nos campi hoje e assume várias formas, em particular de esforços no sentido da igualdade de oportunidades e de que todos sejam tratados com dignidade. Entretanto, quando ativistas estão dispostos a violar as regras e mudar o foco de igualdade de oportunidades para igualdade de resultados, movidos por um senso de justiça distorcido, eles passam a aderir a movimentos e campanhas contraproducentes, indo inclusive contra pessoas que compartilham seus objetivos. Deixam de compreender a verdadeira natureza dos problemas e perdem a legitimidade em seus esforços para resolvê-los. 

4 – Como solucionar o problema? 

Na parte IV são oferecidos conselhos sobre como pais e professores podem criar e educar crianças mais sábias, fortes e independentes e sugeridas formas pelas quais professores, administradores e estudantes universitários podem melhorar suas universidades e adaptá-las ao nosso cenário atual de “revolta turbinada por tecnologia”. Com relação às crianças, as principais sugestões dos autores podem ser resumidas da seguinte forma (incluí apenas 4 das 6 presentes no livro): 

- Prepare a criança para a estrada e não a estrada para a criança – você não vai conseguir ensinar antifragilidade para suas crianças diretamente, mas pode lhes dar o presente da experiência – as milhares de pequenas experiências diárias de que elas precisam para tornarem-se adultos resilientes e autônomos. Este presente começa ao se reconhecer que crianças precisam de tempo livre para brincar sem supervisão, em brincadeiras sem regras formais, para conseguirem aprender a como avaliar riscos por conta própria e a lidar com situações de frustração, tédio e conflitos interpessoais. Elas precisam brincar ao ar livre, com outras crianças. Em algumas situações a supervisão de um adulto pode ser necessária para garantir a segurança física, mas ele não deve interferir em disputas e conflitos. 

- Seu pior inimigo não vai conseguir prejudicá-lo tanto quanto seus próprios pensamentos, se não tomar cuidado com eles – Crianças, assim como adultos, são muito propensos a abraçar a falácia da Racionalização Emocional. Elas precisam aprender habilidades cognitivas e sociais que vão ajudar a limitar a prevalência das emoções sobre a razão e a lidar de forma mais produtiva com as provocações e desafios da vida. Especialmente hoje, quando a internet garante que elas serão expostas a um monte de lixo e frustrações diariamente, é vital que aprendam a interpretar e gerenciar suas respostas emocionais. A principal ferramenta proposta pelos autores é a chamada CBT (Terapia Cognitivo-comportamental), uma forma de psicoterapia que se baseia no conhecimento empírico da psicologia e que é de aplicação extremamente simples, podendo ser aprendida facilmente. Um dos livros que recomendam sobre o assunto é “Feeling Good: The New Mood Therapy” de David Burns), mas fornecem também um guia básico de aplicação de CBT em um dos apêndices do próprio livro. 

 - A linha que divide o bem e o mal corta ao meio o coração de todos os seres humanos – Ajude suas crianças a não cair na falácia dos “nós contra eles”. Não incentive nem propague discursos de ódio. Conceda às pessoas o benefícios da dúvida e pratique humildade intelectual (ou seja, reconheça que pode não estar certo e que o outro pode ter argumentos relevantes para refutar ou reforçar a sua posição). Observe como a escola de seus filhos lida com a questão de identidade política e se não incentiva a internalização da falácia do “nós contra -eles”. 

- Limite o tempo de uso dispositivos eletrônicos – Se as crianças puderem fazer sempre o que quiserem, vão gastar a maior parte do tempo olhando para telas. De acordo com a ONG Common Sense Media, nos EUA os adolescentes tendem a passar 9 horas (!) por dia em frente a telas e crianças de 8 a 12 anos tendem a passar 6 horas diárias. Isso ADICIONALMENTE ao tempo em que eles usam os dispositivos para tarefas e atividades escolares. Um número crescente de pesquisas indica que tal uso excessivo está associado a problemas mentais e sociais, mas o tema ainda precisa de muito estudo. Entretanto, a limitação de tempo a 2 horas diárias vem demonstrando ser um limite saudável e que aparenta evitar os efeitos mentais negativos. Para crianças pequenas, considere banir o uso de dispositivos eletrônicos durante os dias da semana e atrasar ao máximo a incorporação dos mesmos às rotinas diárias. Fique atento também a como as mídias sociais são usadas e sobre como seus filhos lidam com questões como FOMO (fear of missing out), comparações sociais e percepções irrealisticamente positivas sobre as vidas de seus colegas (especialmente sobre os que inundam seus perfis com fotos perfeitas de viagens, festas e passeios). Finalmente, proteja o tempo de sono de seus filhos e interrompa o uso de eletrônicos no mínimo entre 30 e 60 minutos antes da hora de dormir, além de deixar os dispositivos guardados fora do quarto das crianças. 

O livro inclui ainda recomendações às universidades e seus profissionais no estabelecimento de políticas que as fortaleçam em sua função fundamental de busca de conhecimento e da verdade e que também são bastante relevantes e práticas, incluindo um modelo de declaração de princípios de defesa da liberdade de expressão em suas dependências baseado no adotado pela Universidade de Chicago. 

Em suma, apesar de analisar um cenário não muito agradável no ambiente universitário de hoje, o livro oferece soluções práticas para ajudar a mudá-lo. Não é uma obra pessimista, pelo contrário. É bastante otimista com relação à nossa capacidade para resolver as dificuldades atuais e de evoluirmos com elas. Fecha com uma frase de 1830 de Thomas Babington Macaulay, um historiador e parlamentar britânico, que pode ser aplicada tranquilamente aos dias de hoje e a qualquer outro momento da história: 

“Nós não podemos absolutamente provar que estão errados aqueles que nos dizem que a sociedade atingiu um ponto de inflexão e que já vimos nossos melhores dias. Mas isso é a mesma coisa que disseram os que vieram antes de nós, com a mesma propriedade... Com base em que princípios nos baseamos para esperar nada além de deterioração à nossa frente, quando vemos nada além de progresso atrás de nós?”