sábado, 25 de março de 2017

22/11/63

A data que Stephen King usa como título de seu bestseller de 2012, "11/22/63" (Gallery Books, 2012), pode não dizer muito à maior parte dos brasileiros, mas é gravada na história americana de forma tão marcante quanto o 09/11 - o assassinato de John F. Kennedy em plena paranoia da Guerra Fria, com efeitos profundos na condução das políticas interna e externa norte-americanas e considerado por muitos um divisor de águas nos eventos da 2a metade do século XX (para um breve panorama dos efeitos políticos da morte de JFK, vai um link para artigo do Washington Examiner



A premissa do livro é justamente a especulação sobre o que poderia ter acontecido com o mundo se o assassinato não tivesse acontecido: a guerra do Vietnam poderia ter sido evitada? Como teria sido a evolução dos conflitos pelos direitos civis dos negros e a luta de Martin Luther King? Bobby Kennedy ainda teria sido assassinado no Ambassador Hotel depois das primárias na Califórnia em 68? Enfim, quantos eventos-chave na história seriam afetados se a morte de JFK fosse de algum modo evitada e quais as consequências? Jake Epping, um professor de inglês americano em 2011, recebe a oportunidade real de testar esta hipótese. 

O proprietário/cozinheiro de um pequeno restaurante no estado do Maine, amigo de Epping, lhe apresenta uma passagem nos fundos de seu depósito, capaz de transportá-lo até o ano de 1958, a partir de onde (ou de quando), poderá viver , planejar e trabalhar ao longo dos cinco anos seguintes para tentar evitar o assassinato. Entretanto, algumas questões importantes precisarão ser esclarecidas para que o plano tenha sucesso: 

- O tiro que matou Kennedy realmente partiu da arma de Lee Harvey Oswald? 

- Oswald estava agindo sozinho, ou o havia um segundo ou terceiro atiradores? 

- Tratou-se de uma atitude isolada de um lunático, ou havia envolvimento da própria CIA? 

Ou seja, a tarefa de Epping não se restringe a deter Oswald, uma vez que caso ele fizesse parte de uma conspiração elaborada, Kennedy acabaria morto por outra pessoa e o esforço de cinco anos teria sido em vão. 

Além disso, como Epping vai percebendo rapidamente, o passado é extremamente resistente a mudanças e, quanto maior a importância do evento, mais difícil é alterá-lo. O livro é bastante longo (cerca de 840 páginas), mas bom o suficiente para prender a atenção até o final. Aborda alguns temas muito interessantes como as diferenças entre a situação do preconceito racial nos estados do norte e do sul dos EUA nas décadas de 50/60, a tensão constante entre EUA e URSS e o medo da hecatombe nuclear na Guerra Fria, a vida e costumes nas cidades do interior americano e, é claro, o famoso "efeito borboleta" e as consequências imprevisíveis de se mexer com o passado. 

"11/22/63" foi dividido em partes bem definidas, como se já tivesse sido escrito com uma adaptação para série de TV em mente, que realmente foi produzida e lançada em 2016 no Hulu, com direção de JJ Abrams e a promessa de chegar ao Netflix Brasil em breve. Um teaser pode ser visto abaixo:




Finalmente, cabe observar que há também uma dose de crítica política por parte de King, que recebe kudos por incluir no livro (de 2012), o seguinte diálogo imaginário entre George de Mohrenschildt (russo amigo de Oswald nos EUA) e o próprio Oswald, sobre a possibilidade do general super conservador Edwin Walker concorrer à Casa Branca: 

"That could never happen." But Lee sounded unsure. 

"It´s unlikelly to happen," de Mohrenschildt corrected. "But never underestimate the American bourgeoisie's capacity to embrace fascism under the name of populism. Or the power of television. (...)"