quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

Deve ser algum tipo de recorde: 3 meses sem nenhuma postagem. Para afastar a falta de assunto, um rápido comentário sobre o "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia", do Luiz Felipe Pondé.

Eu já havia escrito aqui sobre um outro livro dele, o "Contra um Mundo Melhor" e muito do que eu poderia falar sobre este novo já foi dito sobre o velho, mas assim como no anterior, separei alguns trechos que vão lhe dizer se vai gostar ou odiar este aqui, que se dedica a combater a "praga do politicamente correto". Vamos a eles:



- Sobre as mulheres modernas: "É fato que a própria noção de que a mulher seria o sexo frágil sempre deu a ela a possibilidade de ter "crises" de modo mais tranquilo. Dificilmente veremos homens recomeçando suas vidas num curso de Pedagogia aos 50 anos."

- Sobre religiões da moda: "Uma palavrinha sobre o budismo light ou sustentável, como costumo dizer. Esse tipo de budismo, que se relaciona bem com a "Nova Era" (salada de conceitos religiosos de várias tradições mal cozidos, para consumo da classe média semiletrada e com alta opinião sobre si mesma), é normalmente típico de gente bem egoísta e dissimulada. Dizer que se é budista (ninguém deixa de ser católico ou judeu e vira budista em três semanas num workshop em Angra dos Reis ou num centro budista nas Perdizes, em São Paulo) pega bem em jantares inteligentes, porque dá a entender que você não é um materialista grosseiro, mas sim um espiritualista sustentável."

- Povo e política: "O povo é sempre opressor. Quando aparece politicamente, é para quebrar coisas. O povo adere fácil e descaradamente (como aderiu nos séculos 19 e 20) a toda forma de totalitarismo. Se der comida, casa e hospital, o povo faz qualquer coisa que você pedir. Confiar no povo como regulador da democracia é confiar nos bons modos de um leão à mesa. Só os mentirosos e ignorantes têm orgasmos políticos com "o povo".

- Sobre a diversidade: "Muçulmanos são lindos, índios são lindos, a África é linda, canibais são lindos, imigrantes ilegais são lindo, enfim, todos os "outros" são lindos. Uma das áreas mais amadas pela praga do politicamente correto é a chamada "ética do outro", ou seja, uma obrigação de acharmos que o "outro" é sempre legal. "Outro" aqui significa quase sempre outras culturas ou algo oposto a Igreja, Deus, heterossexual, capitalismo ou arrumar o quarto e lavar o banheiro todo dia."

- Crianças: "Uma coisa simples que aparentemente muita gente não entende: lindos são apenas seus filhos para você, para os outros são pequenos seres humanos mal-educados fazendo barulho. Aqui se traça uma fronteira clara entre você ser ou não um espírito de churrasco na laje: nunca pense que seus filhos são lindos universalmente."

Bom, e por aí vai. Mas só para deixar a certeza de que você não vai gostar de tudo que vai ler (mesmo que tenha gostado de tudo até agora), vai uma que não foi especialmente popular aqui em casa: "Mesmo homens com diploma universitário de engenharia, por exemplo, se julgam capazes de pensamentos profundos sobre o mundo (...)". Palhaço.


PS - não consigo deixar de achar um paradoxo no mínimo curioso o fato deste livro ter ficado tanto tempo como a obra de "não-ficção" mais vendida do Brasil. O dia em que a primeira candidata a "Miss alguma coisa" citá-lo como sua obra preferida, tenho certeza que o Pondé se joga de um viaduto.