domingo, 1 de junho de 2014

Rápido e Devagar

Uma das coisas boas do programa Fim de Expediente da Rádio CBN, são as dicas de livros que os apresentadores dão. Em um dos episódios foi indicado com bastante ênfase o livro de Daniel Kahneman “Rápido e Devagar” (Editora Objetiva, 2011), e resolvi comprar. 



Para começo de conversa, não se trata de um livro de auto-ajuda ou de técnicas de gestão revolucionárias como os que transbordam pelas prateleiras das livrarias por aí – é especificamente sobre o processo de tomada de decisões e Daniel Kahneman recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2002 pelo trabalho que resume neste livro. 

Combinando estatística e psicologia, Kahneman combina os resultados de estudos desenvolvidos com especialistas e pesquisadores de diversas universidades e áreas de concentração ao longo de sua carreira e apresenta uma obra de fácil compreensão e extremamente eficiente no que se propõe a fazer: demolir a nossa fantasia de que somos racionais ou equilibrados em nossas tomadas de decisões e apresentar uma nova visão sobre como a nossa mente funciona. 

Kahmeman divide nossa mente em dois “eus” fictícios: o Sistema 1, intuitivo e que exerce o pensamento rápido e o preguiçoso Sistema 2, que executa o pensamento lento, monitora o Sistema 1 e tenta manter o controle da melhor forma possível. Um exemplo de como trata esta separação pode ser visto no problema abaixo, extraído do livro. Não tente resolver o problema, apenas dê ouvidos à sua intuição: 

- Um bastão e uma bola custam 1,10 dólar. 
- O bastão custa um dólar a mais que a bola. 
- Quanto custa a bola? 

Um número veio à sua cabeça. O número, claro, é dez: 10 centavos. A marca distintiva deste problema simples é que ele evoca uma resposta que é intuitiva, atraente e errada. Faça as contas e veja por si mesmo. Se a bola custa 10 centavos, então o custo total será de 1,20 dólar (10 centavos pela bola e 1,10 pelo bastão), não 1,10 dólar. A resposta correta é 5 centavos. É seguro presumir que a resposta intuitiva também veio à mente dos que terminaram como o número correto – eles de algum modo deram um jeito de resistir à intuição. 

Na terminologia do texto, o Sistema 1 lhe fornece a resposta intuitiva e imediata para a pergunta (10 centavos), mas se você não se esforçar para checar ativamente se a resposta está correta, o seu Sistema 2 (responsável por monitorar as sugestões do Sistema 1), vai assumir uma postura “preguiçosa” e endossar a resposta como certa. O mais interessante é que, se você respondeu 10 centavos, decidiu ignorar o fato óbvio de que esse problema não teria sido apresentado se a resposta fosse tão imediata. Ou seja, respondeu sem parar para pensar, mesmo sabendo que a resposta não deveria ser esta. 

A quantidade de insights valiosos sobre o processo decisório que são apresentados ao longo do texto é enorme e são todos embasados por pesquisas sérias. Surpreende a cada capítulo e é extremamente interessante, apresentando casos práticos aplicados em diversas áreas como gestão de empresas, investimentos, educação e políticas públicas. 

Mesmo para quem não atue profissionalmente com planejamento estratégico ou não tenha uma atividade que envolva tomada de decisões, é uma ferramenta fundamental para a compreensão de processos que ocorrem de maneira inconsciente (e em grande medida de maneira incontrolável) em nossas mentes. Ainda que esta compreensão não nos impeça de tomar decisões erradas ou irracionais, pelo menos ajudará a identificar os momentos importantes em que se deve analisar escolhas precipitadas com mais cautela e, assim, evitar algumas grandes besteiras.

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