domingo, 22 de novembro de 2015

Plato at the Googleplex

O filósofo inglês Alfred North Whitehead uma vez escreveu que “A generalização mais segura sobre a filosofia ocidental é de que ela não passa de uma série de notas de rodapé à obra de Platão”. Esse tipo de afirmação, especialmente vinda de um filósofo, funciona bastante bem como munição para os muitos que não veem qualquer utilidade prática na filosofia. Afinal, se séculos e séculos de discussões não nos trouxeram mais perto de responder às questões fundamentais formuladas por um cidadão ateniense que viveu há mais de 2.400 anos, qual sua serventia? 

Certamente, afirmam os críticos, a filosofia e seus questionamentos tiveram sua contribuição na origem das ciências. Entretanto, à medida que o conhecimento científico avança e especulações filosóficas vão gradualmente sendo confirmadas ou desmontadas por dados, formulações e constatações científicas sólidas, ela estaria progressivamente perdendo sua utilidade, fadada à irrelevância. 

A defesa da filosofia e a demonstração da relevância e atualidade dos temas por ela tratados são os objetivos do livro “Plato at the Googlepex” (Platão no Googleplex), de Rebecca Newberger Goldstein (Vintage Books, 2015). A forma de tratar o assunto escolhida por Goldstein é bem peculiar: trazer Platão para os dias de hoje e envolvê-lo em diálogos do mesmo estilo dos que escrevia, mas com interlocutores atuais. Em um capítulo, Platão discute o que é uma vida que valha a pena ser vivida com um engenheiro da Google e uma media escort; em outro, debate sobre a melhor forma de se criar crianças com uma tiger mom e uma psicóloga bicho-grilo; num terceiro atua como consultor para uma conselheira sentimental de revista feminina; participa de um programa de entrevistas em uma emissora da extrema direita americana; e por aí vai. 



Todas as posições defendidas pelo Platão de Goldstein são embasadas em referências aos seus textos originais e cada diálogo é precedido por um capítulo em que a autora apresenta as bases filosóficas e históricas para estas posições, o que confere mais profundidade ao texto e ajuda o leitor a acompanhar com mais facilidade estas discussões. 

Interessante ver como as questões levantadas por Platão 2.400 anos atrás permanecem pertinentes e atuais. Há menos de 15 dias, por exemplo, ataques terroristas a Paris chocaram boa parte do mundo e causaram, entre outras, discussões sobre a relação entre religião e moralidade, um dos assuntos de que Platão já tratava em Euthyphro (bem antes de Spinoza e Bertrand Russell) e que Goldstein apresenta da seguinte forma (em uma tradução livre): 

“Platão começa o questionamento de forma bem inocente, com Sócrates perguntando a Euthyphro: ‘O que é santo, é santo porque os deuses aprovam, ou eles aprovam porque é santo?’ (IOa). Platão usa a pergunta para separar os conceitos de ações ‘ordenadas pela divindade’ de ações providas de valor moral. O argumento é formulado em termos de ‘dos deuses’, mas é, sem prejuízo à sua força, suscetível à substituição de ‘deuses’ por ‘Deus’. Em suma, o argumento de Platão é o seguinte: Se Deus aprova uma ação, ou Ele o faz arbitrariamente, sem qualquer razão, de modo que é apenas a Sua aprovação que confere valor moral a esta ação; ou existe uma razão para Sua aprovação, de forma que não se trata simplesmente um capricho de Sua parte, havendo uma razão para que Ele aprove tal ação, esta razão sendo o valor moral intrínseco daquilo que Ele aprova. Se a primeira hipótese é a resposta, como este capricho arbitrário pode conferir valor moral à ação? Como algo pode ser bom simplesmente porque alguém lá em cima deseja chamá-lo de bom, na medida em que, se Ele por acaso estivesse com uma disposição diferente na ocasião, poderia da mesma forma considerar a ação exatamente oposta como boa? Por outro lado, se a segunda hipótese é a correta, então existe uma razão efetiva para a atitude normativa divina, sendo esta razão a razão tanto para a aprovação divina quanto para o valor moral daquilo que Ele aprova. Isto faz com que a aprovação divina, normativamente falando, seja redundante – ela é, como se diz hoje, um selo de aprovação. Em nenhum dos dois casos – seja a aprovação arbitrária ou não – esta aprovação sobrenatural faz qualquer diferença sobre a ação ser genuinamente certa ou errada. 

Esta questão, o ‘Dilema de Euthyphro’ ou ‘Argumento de Euthyphro’, permanece um dos argumentos mais utilizados contra a alegação de que a moralidade pode ser apenas fundada sobre teologia, de que é apenas a crença em Deus que se interpõe entre nós e o abismo moral do niilismo. Dostoiévski pode ter declarado que ‘sem Deus tudo é permissível’, mas a resposta de Platão, transmitida ao longo de milênios, é que qualquer ato moralmente inadmissível com Deus é também moralmente inadmissível sem Ele, deixando claro quão pouco a adição de Deus na equação ajuda a clarificar a questão ética” 

Este é apenas um entre todos os tópicos abordados no livro e é, na verdade, um dos tratados mais superficialmente. Todos são atuais e relevantes e a exposição na forma de diálogos ajuda muito no conhecimento também dos argumentos contrários às posições platônicas, além de demonstrar algo muito valioso nos dias atuais: o quanto a exposição e avaliação de diferentes pontos de vista sobre um mesmo tema enriquece a discussão e o quanto é perigoso e empobrecedor nos cercarmos apenas de pessoas que validam nossas opiniões, seja no mundo físico, seja nas “redes sociais”. Ou, como colocado pelo Platão de Goldstein: 

“McCOY: Então você espera realmente que eu acredite que você acha que amigos são aqueles que tentam refutá-lo? 

PLATÃO: Certamente, quando o que eu digo está errado; e eu não posso ter certeza de que não esteja errado a não ser que ouça as melhores contestações possíveis. E eu espero que eu seja um amigo bom o suficiente para devolver o favor.”

** Uma entrevista recente com a autora pode ser ouvida no ótimo podcast Philosophy Bites, através do link:  http://philosophybites.com/2014/11/rebecca-newberger-goldstein-on-progress-in-philosophy.html



sábado, 26 de setembro de 2015

Sense8, ressonância límbica e A General Theory of Love

O primeiro episódio de Sense8 (série do Netflix) tem o nome curioso de "Ressonância Límbica". O termo aparece só uma vez, quando Riley Blue está conversando com Nyx, que acaba de conhecer, sobre suas "visões". Para Nyx, Riley teria experimentado um momento de "Ressonância Límbica", ou o efeito de fazer parte de uma "rede eco-biológica sináptica", que conectaria todos os seres vivos, formada "a partir de uma molécula simples chamada DMT". 

Fui atrás da origem do termo e, depois de removidas todas camadas de ficção e liberdades poéticas aplicadas pelos Wachowski, cheguei a ao livrinho extraordinário onde o termo foi cunhado pela primeira vez: "A General Theory of Love", de Thomas Lewis, Fari Amini e Richard Lannon (Vintage Book, 2000), três professores de psiquiatria de três gerações diferentes que procuram dar respostas três perguntas: "O que é o amor e porque algumas pessoas não conseguem encontrá-lo? O que é solidão e porque dói? O que são relacionamentos e como e porque eles funcionam da forma que funcionam?". 




Antes de prosseguir, esclareço apenas que não pretendo, aqui, fazer qualquer tipo de juízo de valor sobre os conceitos apresentados ou sobre as opiniões dos autores. Meu objetivo é simplesmente descrever de forma breve sobre o que trata o livro, que não foi publicado no Brasil e nem tanta gente assim deve ter lido ou irá encontrar por aí. Peço desculpas se alguns trechos ofenderem algumas sensibilidades, mas não é, em absoluto, esta a intenção. 

Inicia com um questionamento bastante pesado sobre a teoria psicanalítica criada por Freud. Para os autores, trata-se de uma construção elaborada a partir de bases puramente especulativas e artificialmente dotada de uma aura de solidez que jamais poderia possuir, simplesmente devido ao fato de Freud não ter tido acesso, no início do século XIX, de praticamente nenhuma informação sobre a fisiologia do cérebro, muito menos dos modernos recursos de diagnóstico e monitoramento por imagens, de que dispomos hoje. Além disso, enfatizam que, em sua experiência clínica, seus pacientes nunca se comportavam como previsto pela teoria freudiana e tampouco se beneficiavam dos modelos por ela prescritos. Na verdade, as técnicas que os efetivamente ajudavam, jamais lhes haviam sido ensinadas. 

Outro aspecto que deporia contra a validade da teoria freudiana seria o dos avanços das medicações: como reconciliá-la com moléculas que, quando ingeridas, são capazes de apagar desilusões, remover depressão, atenuar as oscilações de humor ou acabar com a ansiedade? Como alguém poderia encaixar esses medicamentos em um racional que pressupõe a proeminência de impulsos sexuais reprimidos como a causa de transtornos emocionais? 

Como o arcabouço fornecido pela teoria freudiana para compreensão da vida emocional de seus pacientes percebido como nitidamente inadequado, os autores passaram então a buscar outras bases para a compreensão dos casos que se apresentavam diariamente em seus consultórios, como os recentes avanços na compreensão da fisiologia e química cerebrais. 

Entretanto, ao mesmo tempo em que a ciência moderna evolui e tende a emergir como sucessora de Freud, traz o desequilíbrio para o outro extremo da escala: um reducionismo físico-químico sem alma. Ou seja, medicações como Prozac e Ritalin seriam as únicas soluções para pacientes com distúrbios emocionais? Quando uma esposa perde o marido e entra em depressão, sua dor tem significado ou se trata apenas de química desregulada? 

De qualquer modo, emoções emanam do cérebro e o cérebro é um órgão físico, ao mesmo tempo em que é inevitavelmente pessoal e subjetivo. Apenas uma mistura cuidadosa de evidência científica e intuição pode, portanto, trazer à tona uma imagem verdadeira da mente emocional. Uma falha neste equilibro leva ao reducionismo vazio de um lado ou à credulidade sem base do outro. 

O modelo trino do cérebro 

O modelo básico do cérebro necessário para a compreensão dos conceitos usados no livro é o modelo trino, ou triúnico, representado abaixo. 



Ao contrário da noção comum de que o cérebro humano seria um órgão único e harmônico, ele não é assim. Segundo o modelo trino proposto pelo Dr. Paul Maclean em "A Triune Concept of the Brain and Behaviour" (University of Toronto Press, 1973), o cérebro seria composto por três sub-cérebros distintos, cada um resultado de uma etapa diferente de nossa história evolutiva. Os três se conectam e se intercomunicam mas, em função das diferenças anatômicas e químicas entre eles, parte da informação é inevitavelmente perdida nesta processo. 

O mais antigo é o cérebro reptiliano, responsável pelas funções vitais como respiração, batimentos cardíacos ou deglutição. Em termos evolutivos é o único de que dispõe vertebrados até o nível dos répteis e possibilita apenas interações rudimentares como mostras de agressividade, disposição para acasalamento ou defesa de território. Não possui as estruturas necessárias para o desenvolvimento de uma mente emocional, nem mesmo nos termos mais básicos, como afeição de mãe pela prole (ou seja, se você pensa que seu iguana realmente gosta de você, pense de novo). 

O segundo cérebro na sequência evolutiva é o cérebro límbico. Começa a se desenvolver a partir dos primeiros mamíferos e todos eles possuem esta estrutura em comum (trata-se do "grande lóbulo límbico" identificado em 1879 pelo cirurgião francês Paul Broca). Seres dotados de cérebros límbicos, mesmo que pouco desenvolvidos, já começam a manifestar emoções. Por exemplo, mamíferos se importam e cuidam de sua prole, chegando ao ponto de arriscar suas vidas para defendê-la, ao mesmo tempo em que a prole busca os pais por proteção. 

Mamíferos também se comunicam vocalmente com sua prole (remova um filhote de cão de perto de sua mãe e ele inicia um uivo incessante de chamado, algo que realmente só faz sentido em animais cujos cérebros podem conceber o conceito de buscar seus progenitores por proteção). Finalmente, mamíferos também brincam uns com os outros, uma atividade interativa complexa e exclusiva das criaturas que dispõe do cérebro límbico. Em suma, é o cérebro límbico que fornece tanto as estruturas necessárias para a formação de emoções como as necessárias para interações sociais. 

O terceiro subcérebro do modelo é o neocórtex, o maior no cérebro humano e presente em maior ou menor grau em diversos outros mamíferos, de coelhos a macacos. Fala, escrita, planejamento, raciocínio e principalmente a capacidade de abstração têm origem no neocórtex. 

A forma difusa com que ocorrem as interações entre os três cérebros e suas diferentes funções é a grande responsável por ocultar os mecanismos e dificultar a compreensão da vida emocional dos seres humanos e da real natureza do amor. Como as pessoas têm consciência plena apenas da parte racional de seus cérebros, assumem que suas mentes emocionais sejam suscetíveis à pressão de argumentos e vontades racionais. Mas infelizmente não é assim que a coisa funciona. Grande parte da mente humana simplesmente não aceita ordens. Pelo contrário, a neuroanatomia moderna indica que todo o neocórtex humano continua sendo indefectivelmente regulado pelas mesmas regiões paralímbicas a partir das quais se desenvolveu. 

Ou seja, se as estruturas responsáveis emoções se concentram em um cérebro e as responsáveis por razão e lógica em outro, que simplesmente não tem capacidade de comandar o primeiro, é irreal imaginar que alguém possa realmente "querer" a coisa certa ou "amar" a pessoa certa. A vida emocional pode ser influenciada, mas não comandada. 

Emoções como vantagem evolutiva 

Mas quais seriam as funções da emoção em termos de evolução? Darwin considerou as emoções como parte de uma adaptação evolutiva dos organismos que se desenvolveu pelas mesmas razões das demais adaptações - sobrevivência. Sua teoria era de que as emoções têm funções biológicas objetivas e que se as estudarmos em detalhe, entenderemos quais são. Por exemplo, bebês cegos sorriem quando interagem com sua mães, da mesma forma que bebês visão perfeita. O sorriso é expresso por criaturas ainda incapazes de falar, andar ou sentar, mas que já sabem como demonstrar sua felicidade através da contração de determinados músculos faciais mesmo que jamais tenham visto outra pessoa expressar-se da mesma maneira. Este sorriso deve, portanto, refletir a arquitetura emocional do cérebro, herdada geneticamente. 

A hierarquia evolutiva das emoções começa com reações simples como o nojo por alimentos podres, que evita o risco de doenças. As seguintes envolvem por exemplo raiva, que prepara o animal para o combate, ou ciúme, que o alerta sobre a possibilidade de ser preterido em um potencial acasalamento. As mais elaboradas envolvem algum nível de abstração do neocórtex, como é o caso do fervor religioso, sendo improvável que possam se manifestar em outros mamíferos além de nós, mas a grande maioria delas são como reflexos que não requerem ou envolvem simplesmente nenhum grau de raciocínio. 

A sintonia emocional entre mamíferos 

Mamíferos podem ler e responder ao estado emocional de outras espécies de mamíferos. Seu cachorro sabe quando você está triste e a recíproca é verdadeira, mas tente ler o estado emocional de um jaboti e ficará bastante desapontado. Variações da mesma linguagem emocional existem ao longo de toda a família dos mamíferos, embora algumas das quais nos sejam totalmente incompreensíveis e outras perfeitamente decodificáveis pelo nosso cérebro límbico. 

Tudo que um mamífero vê, ouve, sente ou cheira é informado ao cérebro límbico, da mesma forma que dados sobre seus batimentos cardíacos, temperatura, pressão e outras dezenas de processos somáticos. Toda esta informação converge para o sistema límbico e é usada no ajuste fino da adequação da fisiologia do corpo ao mundo exterior, como por exemplo no aumento do nível de suor, frequência cardíaca ou respiração. Expressões faciais espontâneas também são uma forma de interação com o mundo exterior e diversas delas, como expressões de raiva ou surpresa são também comandadas pelo cérebro límbico e, em muitos casos, incontroláveis. 

As expressões faciais, têm uma função fundamental na comunicação entre humanos. Como os músculos da face são os únicos conectados diretamente à pele, formam um canal de comunicação extremamente rápido (e universal), disponível ao cérebro límbico. Um bebê, por exemplo, avalia instintiva e constantemente a expressão facial de sua mãe - ao se deparar com um objeto ou situação nova, avalia sua reação e sabe imediatamente se ela está apreensiva ou relaxada, e assim deduzindo indiretamente e se o objeto ou situação em questão lhe oferece algum tipo de perigo. Do mesmo modo, adolescentes e adultos que precisam se comunicar sem contato visual, como em redes sociais, rapidamente aprendem como é muito mais fácil expressar-se com o apoio dos emoticons do que tentando transmitir entonações em um texto digitado. 

Esta conexão e comunicação implícitas são naturais aos seres humanos desde o nascimento. Imagine uma situação em que um bebê pode ver numa tela o rosto de sua mãe. Se for uma conexão de vídeo em tempo real, mãe e filho irão olhar um para o outro, sorrir e estarão felizes e tranquilos. Se a conexão for substituída por uma gravação análoga de imagens da mãe, o bebê percebe rapidamente e fica progressivamente nervoso. Não é apenas a sinalização de satisfação da mãe que ele busca, mas a sincronia e a interação mútua com ela. Mas como e porque uma criatura em um estágio ainda tão preliminar de seu desenvolvimento já seria tão eficiente e tão focada em detectar mínimas contrações faciais no rosto de outra criatura, antes mesmo de conseguir sentar sozinha?

Morcegos desenvolveram sonares para "ver" no escuro. Enguias possuem estruturas capazes de detectar mínimas perturbações em campos elétricos próximos. As emoções nascidas no cérebro límbico, por sua vez, são os órgãos de sensibilidade social dos mamíferos. São o que nos permite avaliar o estado interno de outros mamíferos ao nosso redor e assim ajustar a nossa fisiologia de acordo - uma alteração que é sentida também pelo outro e que por sua vez também se adapta, em um intercâmbio contínuo entre dois cérebros sensíveis e maleáveis. 

É justamente a esta capacidade de troca e adaptação interna que os autores dão o nome de ressonância límbica. É ela que torna o simples ato de olhar nos olhos de uma outra criatura uma experiência tão rica e multifacetada: quando olhares se cruzam, nossa visão vai fundo, sensações se multiplicam e dois sistemas nervosos distintos atingem uma sobreposição íntima e palpável. A conexão é tão natural e esperada para nós que, quando falha, achamos sua ausência perturbadora. Olhe um peixe ou réptil nos olhos e não terá resposta alguma, nenhum sinal de reconhecimento. A frieza de seus olhares dá calafrios aos mamíferos - não é por acaso que são incorporados em criaturas mitológicas que matam com o olhar, como as serpentes no cabelo da Medusa ou o Basilisco. 

Para as criaturas capazes de formar vínculos entre suas mentes, a ressonância límbica é a porta para esta conexão. Ela propicia a harmonia silenciosa que vemos a todo momento, mas que não percebemos explicitamente, como entre mãe e filho, entre uma criança e seu cachorrinho ou entre namorados de mãos dadas no restaurante. É tão integrada a nossas vidas que nem nos damos conta de sua ação. 

Emoções, ao contrário de ideias ou abstrações, são contagiosas justamente por sua natureza límbica. Se alguém tem uma ideia inspirada, ninguém ao redor irá percebê-la. Já a atividade límbica das pessoas ao nosso redor atrai nossas as emoções para uma convergência quase que instantaneamente. É por isso que assistir a filmes no cinema pode ser uma experiência eletrizante, enquanto assistir sozinho ao mesmo filme em casa não o será, por melhor que seja seu equipamento - é a multidão que faz com que a história libere sua mágica. Uma mesma e simultânea evocação límbica transforma indivíduos em uma massa coesa e síncrona, compartilhando os sustos ou a excitação nos cinemas, o fervor religioso no Hajj muçulmano, ou o ódio nas torcidas organizadas. 

E finalmente, voltando ao Sense8 

"A General Theory of Love" progride muito a partir da definição de ressonância límbica, levando a dois outros conceitos básicos para a teoria de possibilidades terapêuticas que apresenta: a regulação e a revisão límbica. Embora sejam extremamente ricos e interessantes, exigiriam um texto relativamente extenso para serem explicados decentemente e o tamanho deste aqui já extrapolou. Sendo assim, paro por aqui e voltarei a abordá-los em um post futuro. 

Voltando ao Sense8, o que se pode concluir é que as tais camadas de ficção e liberdades poéticas depositadas pelo Wachowski sobre o conceito de ressonância límbica são obviamente bem exageradas... Extrapolam muito, mas muito, os fundamentos da teoria e induzem a alguns erros básicos, como na afirmação de Nyx sobre a rede "conectar todos os seres vivos" (em vez de ser uma característica restrita aos mamíferos) ou na referência à molécula DMT (https://pt.wikipedia.org/wiki/Dimetiltriptamina), sobre a qual não há uma única menção na obra, mas que até faz algum sentido no contexto do envolvimento de Nyx com tráfico de drogas. De qualquer modo, devo-lhes um sincero agradecimento por terem me conduzido a um livro tão excepcionalmente interessante, polêmico e rico em insights quanto este.


domingo, 16 de agosto de 2015

Ernest Hemingway - Contos - Volume 1

Hemingway é um autor para ser lido em silêncio. Assim como os personagens dos contos reunidos em "Contos - Volume 1" (7a edição - Bertrand Brasil, 2015), os próprios textos são duros, brutos.


Não são textos pretensiosos, ou com qualquer fundo filosófico. Em sua crueza, contudo, falam diretamente à natureza humana. Quando lidos em silêncio, lhe permitem o prazer de ouvir a sua própria alma respondendo. 

E, para mim, é aí onde está a grandeza de Hemingway.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

A Submissão

Em tempos de um Brasil dividido e de opiniões polarizadas, fica extraordinariamente fácil sentir o ambiente criado por Amy Waldman em “A Submissão” (Fundamento, 2013). Publicado nos EUA em 2011, 10 anos após o ataque às torres gêmeas, o livro é uma ficção em torno do processo de seleção do memorial às vítimas do ataque. Conduzido às cegas por uma comissão, o concurso tem no livro um desfecho absolutamente imprevisto ao ser escolhido como vencedor o projeto do arquiteto muçulmano Mohammad Khan. 




Enquanto a comissão discute em sigilo a conveniência e o impacto de anunciar um muçulmano como vencedor e debate sobre a moralidade de alterar o resultado, o nome de Khan vaza e uma disputa inflamada entre apoiadores e opositores do projeto se inicia e espalha pelos EUA e pelos países muçulmanos. Jogado no meio do tumulto generalizado causado por sua vitória e obcecado em defender seu projeto e resguardar seu direito de não discutir a origem de sua inspiração, Khan vai gradualmente vendo sua vida ser exposta e suas motivações deturpadas, enquanto movimentos e ações de intolerância se intensificam de ambos os lados. 

Estão todos presentes e envolvidos na polêmica: familiares das vítimas, repórteres sem escrúpulos, políticos oportunistas, artistas egocêntricos, ativistas de extrema direita, ativistas de direitos humanos, imigrantes legais e ilegais, liberais e conservadores. Waldman navega entre os argumentos e pontos de vista de cada um com notável isenção e elegância e costura um enredo elaborado, convincente e emocionante. 

Ex-jornalista do New York Times, um dos pontos fortes de Waldman está também na forma como elabora as manchetes, entrevistas, reportagens e editoriais fictícios dos diversos meios de comunicação americanos, desde a direita à la Fox News até a liberal New Yorker, cada um deles sutilmente (ou nem tão sutilmente assim), moldando e ajustando os fatos e declarações à sua linha editorial. 

É um livro excelente, que acumulou uma grande variedade de prêmios e que merece sem dúvida ser lido. Dentro do cenário brasileiro atual é praticamente impossível, ao lê-lo, deixar de imaginar o nível de baixaria que dominaria o debate a respeito de um tema tão polêmico em nossas redes pseudo-sociais...

terça-feira, 7 de julho de 2015

A visita cruel do tempo

Escrito na forma de uma série de contos interligados, "A visita cruel do tempo" de Jennifer Egan (Intrínseca, 2012), narra episódios da vida de um grupo de pessoas conectadas por meio de relações de sangue, amizade ou trabalho, sempre tendo a indústria do rock nos Estados Unidos como pano de fundo.




Oscilando entre passado, presente e futuro de modo absolutamente não linear e fazendo uso de diversas formas de narrativa, que incluem até uma apresentação de PowerPoint (!), é uma leitura extremamente agradável e muito difícil de largar. Foi vencedor do Prêmio Pulitzer 2011 para obra de ficção e, sem dúvida, o melhor livro que li até agora neste ano. Não deixe de ler. 

Caso leia, não deixe de visitar um site muito interessante que mostra a teia de relacionamentos entre os personagens e que vai construindo esta teia conforme você vai alterando o número da página do livro. O endereço é: http://www.filosophy.org/projects/goonsquad/. Uma tela de exemplo pode ser vista abaixo.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

O capital no século XXI

No dia em que escrevo isto, "O capital no século XXI" de Thomas Piketty (Editora Intrínseca, 2014), figura na lista dos 10 livros de não-ficção mais vendidos no Brasil pela vigésima quarta semana, algo notável para uma obra de economia. Apesar do livro ser bem longo (mais de 600 páginas), vou tentar fazer um resumo grosseiro aqui, incluindo o mínimo indispensável para iniciar uma conversa polêmica no boteco ou para lhe deixar preparado para quando o seu cunhado petista chato puxar o assunto no almoço domingo. 



Antes de começar, entretanto, adianto que alguns dos pontos e soluções que Piketty levanta são realmente polêmicos e discutíveis, mas têm o mérito de servir como gatilho para discussões importantes e que provavelmente serão o centro de longos debates ao longo dos próximos anos. O livro é embasado em uma pesquisa extensa sobre bases de dados impressionantes sobre capital e renda em países como França, Alemanha, Itália, Inglaterra e Estados Unidos e é surpreendentemente bem escrito e muito bom de ler, mesmo para os que fogem de números e cálculos. 

A preocupação central de Piketty diz respeito ao crescimento da desigualdade na atualidade e a sua visão de que a concentração de renda é retroalimentada continuamente. Para ele, "Quando a taxa de remuneração do capital ultrapassa a taxa de crescimento da produção e da renda, (...) o capitalismo produz automaticamente desigualdades insustentáveis, arbitrárias, que ameaçam de maneira radical os valores da meritocracia sobre os quais se fundam nossas sociedades democráticas." 

Em linhas gerais, isso significa dizer que quando os rendimentos financeiros são maiores do que as taxas de crescimento das economias, haveria a formação de uma espiral contínua de concentração de renda que não seria controlável por forças de convergência espontâneas e que precisaria ser contida e ajustada por meio de mecanismos específicos. 

Por forças de convergência entenda-se fatores que tendam a reduzir a desigualdade de capital e renda, sendo a principal delas a difusão de conhecimento. As forças de divergência, por sua vez, são as que operam em sentido contrário, fazendo, por exemplo, com que se forme uma barreira aparentemente instransponível entre as pessoas com salários mais elevados do restante da população e que propiciam a concentração contínua de capital. A principal força de divergência segundo Piketty seria justamente a diferença entre a taxa de remuneração do capital (r) e a taxa de crescimento (g), ou seja a desigualdade r > g. 

Sua análise referente a concentração de capital e renda se inicia comparando a situação observada no final do século XIX e início do século XX (em que a concentração era extremamente elevada), com a observada no início do século XXI. Nesta comparação, encontra uma curva de evolução da concentração em forma de "U" ao longo dos últimos 100 anos e deduz que o vale observado nas décadas de 1940 / 1950 teria sido causado não por uma evolução natural do modelo econômico capitalista, mas pelo impacto extremo das duas grandes guerras. Extrapola então a análise, sinalizando que sem ações externas de contenção, a tendência da curva de desigualdade seria a de atingir, em alguns anos, níveis muito elevados, próximos aos extremos observados na "Belle Époque" e propiciar o surgimento de um novo capitalismo patrimonial. A desigualdade de renda resulta da soma de dois fatores: a desigualdade de renda do trabalho e a desigualdade de renda do capital. 

A desigualdade de renda do trabalho é óbvia - refere-se às diferenças de rendimentos de salários e outros valores advindos de atividades produtivas. Já o mecanismo que ocasiona a desigualdade de renda do capital é muito simples de ser entendido por qualquer pessoa que já tenha se preocupado em escolher um fundo de investimento em um banco: quanto maior o capital a ser investido, melhores são as taxas de remuneração oferecidas, menores são as taxas de administração do fundo e menores (ou nulas), são as taxas de manutenção da conta. Ou seja, o capital de quem aplica R$ 100.000,00 em um fundo cresce a ritmos muito mais acelerados do que o de quem aplica R$ 1.000,00, de modo que a divergência tende a aumentar continuamente. De modo análogo, taxas de retorno de capital maiores do que as taxas de crescimento da economia tenderiam a aumentar a concentração de capital continuamente. 

Na prática, a desigualdade de renda do capital é mais forte do que a de renda do trabalho. Altas rendas de capital podem conduzir o investidor a uma situação em que seja possível viver com apenas uma parte dos rendimentos anuais de juros, ainda reinvestir parte destes juros e manter-se sem trabalhar e sem consumir o principal, que continua aumentando. Esta é, para Piketty, a situação a ser evitada, já que grandes parcelas de capital estariam deixando de ter utilidade real para a sociedade. 

Cabe aqui apresentar alguns números interessantes a esse respeito: 

  • A participação dos 10% que recebem as rendas de trabalho mais altas gira de 25% a 30% da renda de trabalho total; 
  • A participação dos 10% que detêm o patrimônio mais alto é sempre superior a 50% do total da riqueza; 
  • Os 50% com salários mais baixos recebem entre 1/4 e 1/3 da das rendas de trabalho; 
  • Os 50% mais pobres em patrimônio não possuem nada (menos de 10% ou mesmo 5% da riqueza total). 

Ou seja, quanto mais se sobe no nível de riqueza, maior a importância dos rendimentos de capital nos rendimentos da família e menor a importância dos rendimentos do trabalho. Interessantes também são os números referentes à desigualdade de renda total (trabalho + capital) nos Estados Unidos em 2010 (país com desigualdade acentuada): 

  • Renda dos 10% mais ricos = 50% da renda total (onde o 1% superior corresponde a 20% do total);
  • Renda dos 40% do meio (classe média) = 30% da renda total;
  • Renda dos 50% mais pobres = 20% da renda total. 

Em termos da riqueza total, os números apresentados indicam que nas sociedades escandinavas, mais igualitárias, os 10% com os maiores patrimônios detém cerca de 50% da riqueza total e os 50% mais pobres cerca de 10% (no caso da Suécia). Já nos Estados Unidos, os 10% superiores detém cerca de 72%, com os 50% inferiores detendo apenas 2%. 

A base de comparação de Piketty são os dados disponíveis em 1900 a 1910 para Reino Unido, França e Suécia, onde os 10% mais ricos detinham 90% da riqueza nacional (sendo o 1% superior detentor de 50% (!)) e os 40% do meio de cerca de 5% a 10%. Ou seja, a situação dos 40% do meio em 1910 é muito semelhante à dos 50% mais pobres na atualidade. 

Esta situação indica que não havia uma classe média real em 1910 e Piketty ressalta o surgimento da classe média patrimonial como uma das grandes inovações do século XX e uma das mais importantes transformações estruturais na distribuição de riqueza no longo prazo, embora ela só detenha na prática 1/3 do patrimônio na Europa e 1/4 nos Estados Unidos atualmente. A queda dos 10% mais ricos deu-se essencialmente em benefício da nova classe média patrimonial e não dos 50% mais pobres. 

Enquanto a sociedade de 1910 chegou a esta condição de concentração por meio de uma "sociedade hiperpatrimonial" (de rentistas), em que o patrimônio é muito importante e a renda é dominada pelos rendimentos de capital, a desigualdade atual encontraria um de seus motores na "sociedade hipermeritocrática" ou de "superexecutivos", onde o topo da hierarquia das rendas é dominada pelas rendas de trabalho (e não de capital), mais altas. 

Nada impede, entretanto, que os filhos dos superexecutivos se tornem rentistas, uma vez que os dois tipos de desigualdades podem facilmente se acumular. Isso nos conduz à análise de Piketty sobre a questão das heranças. 

Segundo Piketty, outra força em favor da concentração de capital e ampliação da desigualdade é o retorno da herança. Para a geração nascida imediatamente após as guerras mundiais (os baby-boomers), a herança era um conceito ultrapassado. Com a destruição de capital causada pelas guerras, poucos tiveram acesso a heranças significativas. Entretanto, a despeito do maior envelhecimento da população (que atua em sentido contrário à importância das heranças), os dados apresentados no texto indicam um movimento ascendente no fluxo de heranças a partir de 1970 / 1980, sendo que a participação dos patrimônios herdados sobre a riqueza total da França, por exemplo, passa de 45% em 1945 para quase 70% em 2010. 

Unindo-se este retorno da importância das heranças a uma conjuntura em que o crescimento é baixo e o rendimento do capital é muito superior à taxa de crescimento, a tendência é de que a concentração patrimonial rume a níveis em que a renda do capital herdado supere as altas rendas de trabalho, o que conduziria a uma nova sociedade de rentistas. Outro aspecto da herança ressaltado por Piketty é que ela se opõe a um dos principais pilares do capitalismo e das sociedades democráticas atuais: a crença numa sociedade em que as desigualdades seriam mais fundadas no mérito e no trabalho do que na filiação ou na renda. 

Dito isso, Piketty advoga em favor do Estado social como fundamental para o controle e redução da desigualdade. Inicia apresentando como as receitas fiscais foram muito ampliadas ao longo dos últimos 100 anos, saindo de uma carga tributária correspondente a 10% das rendas nacionais antes da 1a Guerra Mundial para algo em torno de 40% a 55% na Europa ou 30% nos Estados Unidos na atualidade. Este aumento foi destinado basicamente à atuação do Estado nas áreas de educação, saúde e de rendas de substituição e transferência, algo que inexistia no início do século XX, quando se concentrava basicamente nas grandes funções soberanas como polícia, justiça, exército, etc.).

Como forma de financiamento do Estado social, Piketty defende formas progressivas de impostos tanto sobre a renda quanto sobre o capital e sobre heranças, sendo este último mais uma forma de controle da concentração de capital do que de financiamento do Estado, dada sua menor relevância. Sob sua ótica, a implementação de um imposto progressivo e global sobre o capital, que ignorasse a sua forma (investimentos, imóveis, ações, etc.) e também a sua localização (no país ou no exterior), seria inestimável na regulação do capitalismo e também como forma de obrigar o capital a ser destinado preponderantemente a atividades produtivas e não especulativas. Por outro lado, um imposto progressivo sobre a renda, além de colaborar com o financiamento do Estado social, também atuaria como um desestímulo aos supersalários. 

Finalmente, enquanto defende estas políticas tributárias progressivas, ataca o gasto excessivo dos governos com os juros sobre suas dívidas públicas (e que funcionam como um mecanismo adicional de concentração de renda) e considera a legitimidade de um imposto excepcional sobre o capital como forma de se reduzir estas dívidas. Ciente da dificuldade na implementação de um imposto desta natureza, Piketty avalia também a relevância da inflação controlada como um fator de redução da dívida, ou seja, como um substituto imperfeito mas eficaz. 

Pode-se questionar as conclusões de Piketty ou as suas propostas para a solução do problema da desigualdade (que possuem um viés claramente socialista). Um exemplo é o questionamento de Matt Rognlie, um doutorando do MIT que levantou o ponto de Piketty ter subestimado a importância da depreciação de grande parte do capital com o tempo (como ocorre com fábricas, por exemplo). Independente disso, o livro tem o grande mérito de trazer a questão da concentração de riqueza de novo ao centro do debate político e econômico e conduz a questionamentos bastante interessantes. Vale a pena ser lido.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Cem Anos de Solidão

Cem Anos de Solidão é considerada uma das principais obras do Nobel de Literatura colombiano Gabriel García Márquez e uma das maiores obras da literatura latino-americana. É um livro de realismo fantástico com um enredo bastante intrincado, o que pode repelir alguns leitores logo no início, mas é tão bom que chega a ser meio ridículo recomendá-lo. 




Para quem não leu ainda e quer ter uma ideia de como é, pense algo na linha de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Também como Memórias, é um livro que quando lhe obrigam a ler, você provavelmente vai odiar. Quando ler voluntariamente, vai adorar. 

A narrativa se desenrola em torno da saga da fictícia família Buendía, que funda a pequena e remota aldeia de Macondo no interior de um país latino-americano indefinido, cuja história alinha-se com a história colombiana e transcorre aparentemente a partir do início do século XIX (época da independência colombiana), ao início do século XX (quando ocorre a Guerra dos Mil Dias, conflito entre os partidos Liberal e Conservador que devastou a Colômbia e matou cerca de 3,5% da população do país). 

A genealogia das sete gerações de Buendía é deliberadamente confusa em função de relações incestuosas e extraconjugais e também do uso repetido dos mesmos nomes (Aureliano e José Arcádio) para os homens da família, o que faz com que o leitor precise consultar uma árvore genealógica com muita, mas muita frequência. A título de curiosidade, reproduzo abaixo uma das versões da árvore, extraída do site Wikipedia




É um livro complexo, político e uma metáfora extremamente interessante da formação das nações latino-americanas. Trata de temas como conflitos políticos e econômicos, ditaduras, repressão, latifúndios, identidade e claro, isolamento e solidão – em particular da solidão e da identidade da América Latina. Para ser lido com calma e paciência, mas imperdível e considerado a 2ª obra mais importante da literatura hispânica, atrás apenas de Dom Quixote.