terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Pobre George

Seguindo uma indicação que li na Veja alguns meses atrás, comprei o livro "Pobre George", de Paula Fox, uma escritora americana principalmente de livros infantis, mas que tem alguns bons romances publicados.

"Pobre George" conta a estória de George Mecklin, um professor americano casado, que acaba de mudar-se para fora da cidade grande e que tem sua nova casa invadida por um adolescente delinquente chamado Ernest. O enredo se passa no final da década de 1960 e gira em torno da tentativa de George de transformar Ernest, levando-o de volta aos estudos, mesmo contra a vontade de sua esposa Emma.

Na verdade, o que chama a atenção no livro não é tanto o enredo, mas a forma ácida como a classe média americana da época é retratada. Todos os personagens do livro são disfuncionais de alguma forma, inclusive os coadjuvantes e o clima de depressão, desilusão e abatimento que se percebe ao longo de todo o texto é sufocante.

Não quero dizer com isso que o livro seja ruim. Pelo contrário, é muito bom, mas o leitor deve ir preparado para entrar na vida de uma sociedade que vive em um marasmo completo, sem expectativas ou projetos, em um estado permanente de apatia e solidão. No caso de George, a ajuda a Ernest não é algo altruísta como se pode imaginar - trata-se mais de uma tentativa desesperada de dar algum objetivo mínimo a sua vida; de um modo de ter um "projeto" ao qual se dedicar.

O retrato social que se apresenta vem um pouco de encontro com a percepção pessoal que tenho do modo de vida americano, que não sei se é correto, mas que formei com base em algumas viagens e no consumo de anos obras americanas, sejam livros, filmes ou séries de televisão: a de que certos aspectos que para nós brasileiros são fundamentais, como o convívio familiar, formação de amizades, ou mesmo alguma forma de manifestação de espiritualidade, são secundários ou até insignificantes na cultura americana.

Tome-se o exemplo de qualquer filme ou série de TV: são raros os casos em que o personagem interaja com um parente que não seja sua esposa, filho ou pais. Talvez a maior pulverização do mercado de trabalho nos EUA, que faz com que as famílias se espalhem naturalmente pelo país, tenha boa parcela de responsabilidade neste efeito, mas o fato é que cultura enraizada é a do núcleo familiar dispersar-se bastante cedo, quando comparado ao padrão brasileiro. Quantas vezes em filmes americanos já não foi apresentada como ridícula a situação de pessoas com 20 anos ainda vivendo com seus pais? Aqui, isso é perfeitamente natural.

No caso de "Pobre George", a maior causa do desespero do casal Mecklin é a solidão. George tem apenas uma irmã problemática, desempregada, que vive com o filho na cidade. Seu casamento está em crise. Não tem afinidade com praticamente nenhum de seus colegas de trabalho. Até tenta formar amizades com seus novos vizinhos, em vão. O único relacionamento um pouco mais estreito que consegue estabelecer é com o marginal que entra em sua casa, e que acaba sendo até mais forte do que o que tem com sua própria esposa.

Enfim, "Pobre George" é um pouco deprimente, sim. Dá uma certa angústia ver um personagem de 30 e poucos anos vivendo como se fosse um viúvo idoso abandonado. Por outro lado, o livro faz com que você fique feliz por viver um país onde os relacionamentos são mais calorosos, as amizades são mais verdadeiras e parentes são pessoas que você procura, não de quem você foge. Afinal, se você não tem com quem compartilhar sua vida, ela vale a pena ser vivida?

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