sexta-feira, 4 de julho de 2014

Watson e a Lu


Toda vez que vejo o comercial de televisão apresentando a "Lu" do Magazines Luiza (http://www.magazineluiza.com.br/portaldalu/), fico com uma sensação estranha - algo incomoda no avatar digital desenvolvido para ser a cara da empresa na internet, apesar do óbvio cuidado que tiveram em sua criação.

Em 2013, assisti a uma apresentação bastante interessante da IBM sobre seu supercomputador Watson. Watson não é simplesmente uma nova versão do Deep Blue, famoso por suas vitórias no xadrez anos atrás. Trata-se de um sistema de inteligência artificial  extremamente complexo, capaz de interagir com humanos da forma mais simples possível: compreendendo a linguagem natural e respondendo da mesma maneira.

Para demonstrar o potencial de Watson, a IBM "inscreveu" a máquina em uma das competições mais populares de TV nos Estados Unidos: Jeopardy. Watson participou como qualquer pessoa participaria: ouvindo às perguntas e respondendo a elas através da fala. Ganhou o jogo.


Um dos desafios encontrados pela IBM ao longo do processo, entretanto, foi o de como apresentar essa máquina na TV de uma forma simpática e amigável, que não remetesse, por exemplo, à Skynet da série Terminator, ou ao computador psicopata de Jogos de Guerra. As pessoas, por natureza, não se sentem muito confortáveis com a ideia de máquinas que pensam e ficou muito claro desde o começo que dar uma cara "humana" a Waston seria uma péssima ideia.

Uma das primeiras sugestões, segundo consta, foi usar um avatar com rosto e voz de uma inofensiva criança pequena. O resultado foi aterrorizante - ouvir um computador falar com voz de criança, e ainda por cima dando respostas geniais a perguntas difíceis, foi uma experiência tão bizarra que ficou claro que o problema exigia uma solução menos ortodoxa.

A solução da IBM para a questão foi a de dar uma voz neutra para Watson e criar um avatar abstrato, baseado no logotipo "smarter planet" da IBM, para ele:



O processo de criação do avatar e da voz podem ser vistos no vídeo abaixo e são bastante interessantes:



Acho que é isso que me incomoda na Lu: por ter sido desenvolvida tentando simular um ser humano o mais perfeitamente possível, talvez ela chame a atenção demais e gere um certo desconforto. Neste tipo de aplicação, em que humanos precisam interagir com um interlocutor digital, provavelmente a opção por um avatar abstrato realmente seja melhor.

Em tempo: a demonstração a que assisti para as capacidades de Watson foi também muito interessante. Como o evento se passou no Caribe, foi dada a Watson a tarefa de desenvolver uma sobremesa que fizesse uso de elementos da culinária local para ser servida ao final da apresentação. Simples assim. É surpreendente  imaginar que haja um sistema de IA que consiga raciocinar sobre sabor como um humano, mas posso dizer que provei e que funcionou!

O sistema começou capturando dezenas de milhares de receitas disponíveis através de técnicas de processamento de textos em linguagem natural para entender como os ingredientes se combinam e como os pratos são compostos, passando em seguida a fazer rearranjos dos diversos ingredientes em novas receitas. Ele então fez referências cruzadas entre a composição química dos ingredientes e a psicologia do gosto das pessoas para modelar como o palato humano poderia responder a cada combinação diferente de sabores. Finalmente, deu prioridade a ingredientes locais e combinações típicas da região para sair com a receita final, que acabou sendo composta por um número de ingredientes muito maior do que seria razoável numa receita convencional, criada por um chef.

A título de curiosidade, segue a receita que experimentei  (em inglês) e a foto da sobremesa, preparada pela equipe do hotel. O resultado foi surpreendentemente  bom, mas os cozinheiros lendo isso podem ficar sossegados. As receitas humanas ainda são melhores e o emprego de vocês está garantido, pelo menos por mais alguns anos:

CAYMANIAN PLANTAIN DESSERT
Yields 6 servings 
Special tableware: 5 cm diameter, 7.5 cm tall glasses




Caramelized bananas
- 21 g butter
- 28 g molasses
- 1 tsp (5 g) pure vanilla extract
- about 0.3 g nutmeg
- 170 g peeled very ripe bananas, medium dice (1.25 cm)
- 85 g milk

1- Heat the butter and molasses in a saucepan over medium heat.
2- Add the vanilla extract and nutmeg, then the bananas, and cook for 2 minutes, stirring regularly with a spatula.
3- Add the milk, stir, and bring to a simmer. Remove from the heat. Adjust the nutmeg as needed: you should be able to taste just a hint of it.
4- Pass the mixture through a sieve. Process half of the bananas with the liquid in a blender until smooth. Transfer to a container, mix in the rest of the banana chunks, and let cool for 30 minutes.
5- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes. Once cold, the mixture should not be liquid anymore.

Coconut and lime pastry cream
- 3 egg yolks
- 45 g light brown sugar
- 14 g flour
- 170 g milk
- 17 g lime juice
- 28 g coconut flakes
- 3 g butter, diced

1- In a bowl, mix the egg yolks and half of the sugar with a whisk for 1-2 minutes, then mix in the sifted flour.
2- In a small saucepan over high heat, place the milk, the lime juice, coconut flakes and the rest of the sugar, and bring to a simmer. Remove from the heat and let steep 5 minutes.
3- Process the milk mixture in a blender, and pass through a conical sieve, pressing with a ladle to get all the liquid out of the coconut residue. Return the liquid to the saucepan, and bring back to a simmer.
4- Slowly pour the milk over the egg yolk mixture to temper it, whisking constantly. Return to the saucepan, and bubble gently for 2 minutes, still whisking constantly. Transfer to a container, mix in the butter, and let cool for 15 minutes.
5- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes. Once cold, the mixture should not be liquid anymore.

Papaya and orange salad
- 113 g orange juice
- 20 g butter, diced
- about 0.1 g cayenne pepper
- 128 g papaya, small dice (1/4”)

1- In a saucepan over high heat, reduce the orange juice to ¼.
2- Whisk in the butter and cayenne pepper. Adjust the pepper as needed: you should be able to taste just a hint of it.
3- Toss the papaya, and remove from the heat. Transfer to a container, and let cool for 15 minutes.
4- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes.

Plantain chips
- Corn oil, for deep-frying
- 1 plantain, very cold
- salt

1- In a deep-fryer, heat the oil in to 375 F / 190 C.
2- Peel the plantain, then cut it in half. Using a mandoline, slice each half very thinly: the slices should be just thick enough so they don’t break. Cut each slice in half lengthwise (into 2 long strips).
3- Proceeding in small batched, deep-fry the plantain strips until golden brown, then drain on paper towels and let cool.
4- Deep-fry the strips a second time for about 10 seconds, to make them crispy. Drain on a paper towel, and season with Salt.
5- Place 2 chips on each verrine just before serving..

Nenhum comentário:

Postar um comentário