quinta-feira, 27 de novembro de 2014

There is a time, and a place.

E no sábado, ele acordou cedo. Os presentes recebidos na festa da véspera ainda no carro, estacionado na garagem do sobrado apenas algumas poucas horas antes. As fotos com família e melhores amigos ainda no cartão de memória da máquina, pela primeira vez operada com orgulho pelo seu primeiro orgulho, de apenas 7 anos, mas frequentemente mais maduro que ele.

Maturidade. A palavra tinha um gosto estranho e um toque amargo, como o do adoçante sintético que substituiu o açúcar de seu café aos 38. Agora, finalmente aos 40, estendia os seus dedos escuros e frios para inexoravelmente apertar um coração que ainda se recusava a aceita-la de todo, ancorado à nostalgia de um tempo mais simples e bagagem mais leve. 

Pegou suas malas, despediu-se de seus três tesouros e desceu as escadas, encontrando o irmão que já esperava no táxi, pronto para a antecipada, esperada e negociada viagem até a ilha, seu provável último ato de absoluta irresponsabilidade. 

Oito dias, onze mergulhos, treze amigos e dois irmãos. 

E o tempo parou. Acima de qualquer expectativa e contra qualquer possibilidade, retrocedeu. Dias perfeitos, noites de adolescente, amizades de infância e absolutamente nada no horizonte. Uma semana de julho de 93 e não de novembro de 14. 

E no crepúsculo de sua última tarde a epifania bateu. Exausto, à beira de uma água inesquecível e sobre areias eternas, com a companhia solitária de bandas esquecidas e músicos mortos, aguardando que o sol parasse de se debater e finalmente se entregasse ao mar caribenho, ele foi tocado pela perfeição infinita daquele instante, da simplicidade e da leveza. Sentiu notas ancestrais, ocultas e esquecidas por décadas no fundo de sua alma reverberando pela primeira vez. 

E o relógio voltou a andar. E, em algumas horas, estava de volta ao sobrado e aos seus tesouros, absorto na intensa felicidade do reencontro. 

Mas então, no silêncio da primeira noite, a angústia. A epifania cobrava seu preço. Ao final da segunda noite insone, a ressonância crescente finalmente cumpriu seu papel e partiu o cristal de sua alma num espasmo de dor. E ele se foi para sempre. Para a ilha, que o aguardava e acolhia e onde o relógio nunca mais voltou a andar. 

Closure. 

Ele se foi e eu fiquei. Livre para cuidar dos meus tesouros. Finalmente livre do fantasma nietzscheneano do eterno retorno, que agora abraço sem medo. Consciente de minhas escolhas. Certo de que faria tudo de novo. E no sono profundo da terceira noite, a mão negra e fria que antes ameaçava se transforma na mãozinha quente e macia de meu segundo orgulho, tocando com delicadeza meu rosto e pedindo por meu carinho. 



...



You must kill the boy, Jon Snow.

Done.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Dragão de Gelo

Entre 1976 e 1996, ou seja, antes de se tornar um sucesso com as “Crônicas de Gelo e Fogo” / “A Guerra dos Tronos”, George R. R. Martin publicou diversos romances e contos, alguns muito premiados. No meio desta bibliografia, achei um único livro para o público infanto-juvenil e comprei na semana passada: “O Dragão de Gelo” (Editora Leya Brasil, 2014). 



Não tinha escrito sobre livros infantis aqui até hoje, mas depois de ver uma vendedora da livraria onde comprei “O Dragão de Gelo” empurrando umas porcarias para um casal que procurava um presente bacana para um sobrinho, achei que não faria mal deixar umas dicas para pais e tios perdidos no meio de tanto livro caro e inútil que vendem por aí. 

Experimente entrar na seção infantil de uma grande rede: está cheia de livros coloridões, enormes, com origamis que se armam sozinhos, botões que fazem barulhinho, com bichos peludinhos para passar a mão, à prova d’água, com quebra-cabeças, CDs, DVDs e tudo mais que se possa imaginar, mas bem pouca coisa que dê para ler de verdade. E acredite, ainda existem crianças que gostam de ler ou ouvir uma boa estória. 

“O Dragão de Gelo” é uma boa estória. Escrita em 1980, conta sobre uma menininha chamada Adara, que mora em uma fazenda com o pai e dois irmãos mais velhos. Segundo seu pai, Adara foi tocada no parto pelo mesmo frio do inverno que levou sua mãe, tornando-se uma criança de mãos e coração gelados, que sempre manteve uma certa distância de sua família e que cresceu deslocada, preferindo a solidão e o inverno à companhia de outras crianças e o calor do verão. 

Ao fazer quatro anos, Adara encontra um dragão de gelo, que passa a aparecer todos os invernos, na época de seu aniversário. Após algum tempo, experimenta cavalgar o dragão, passando a voar com ele, tornando-se sua amiga. 

Simultaneamente, uma guerra que vem sendo travada há anos ao norte começa a se aproximar perigosamente da vila de Adara, mas o pai insiste em permanecer na fazenda, a despeito de todas as recomendações de seu irmão, cavaleiro de dragão das tropas reais. Evidentemente, a guerra um dia chegará até Adara e sua família e uma sequencia de acontecimentos a transformará. 

Há alguma discussão sobre se o universo em que se passa “O Dragão de Gelo” é o mesmo de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, mas eu entendo que não. Estamos falando de invernos normais, de poucos meses, embora alguns elementos realmente remetam a Westeros. 

Não é um livro para crianças pequenas – acho que no mínimo para 7 ou 8 anos. Não se deve esquecer quem é o autor, mas garanto que leva mais de 80 páginas para morrer alguém e as ilustrações da edição de 2014 são fantásticas, embora possam assustar um pouco os menores. São apenas 8 capítulos e dá para ler com as crianças em umas 4 noites. Gostei bastante e recomendo.

Em tempo, um conselho para quem não tem filhos: livros gigantes podem parecer bonitos e interessantes e podem ser ótimos  como decoração de lojas, mas são uma desgraça para guardar em estantes. Se não cabe em uma estante normal, não compre. O pai da criança presenteada vai lembrar de você e querer sapecar o livrão na sua cabeça a cada vez que vir o infeliz transbordando da prateleira.

sábado, 20 de setembro de 2014

Um retrato do artista quando jovem

Antes de encarar as 1.112 páginas e 1 kg de Ulisses, achei que seria melhor ter um contato mais leve com James Joyce lendo "Um retrato do artista quando jovem" (editora Hedra, 2013) e ver se me animava. 




Autobiográfico, o livro narra o período da infância à adolescência de Stephen Dedalus, alter ego de James Joyce, e vai evoluindo em estilo conforme a idade de Dedalus avança, sendo, em minha opinião, mais interessante em termos estéticos do que de literatura propriamente dita. Não estou afirmando aqui que seja uma obra ruim (muito pelo contrário), mas minha concepção de literatura interessante pressupõe um texto que consiga me manter acordado por mais de 5 páginas depois das 23:00, missão em que o "retrato" falhou miseravelmente... 

Quando me refiro à evolução do estilo ao longo do livro, quero dizer que a forma de escrever vai mudando proporcionalmente e refletindo o amadurecimento intelectual de Dedalus. Compare, por exemplo, os dois trechos descritivos abaixo, extraídos do primeiro e último capítulos. O primeiro trecho, da infância de Dedalus: 

"O trem ia cheio de colegas: um trem grande cor de chocolate, grande e com os lados cor de creme. Os guardas iam e vinham, abrindo e fechando e trancando e destrancando as portas. Eles eram homens vestindo azul escuro e prata; tinham apitos prateados e levavam chaves que produziam música ligeira: clique clique: clique clique." 

Até aí você vai pensando: ué, quem foi que disse que Joyce era difícil? O que tem de especial? Mas então, no último capítulo, se dá conta de que as descrições do tipo "clique clique: clique clique" foram evoluindo para algo como: 

"Ele observava o voo deles: pássaro depois de pássaro: um clarão escuro, uma curva, outro clarão, uma guinada de lado, uma curva, um bater de asas. Ele tentou contá-los antes que todos os corpos velozes e trêmulos passassem: seis, dez, onze: e ele se perguntou se estariam em número par ou ímpar. Doze, treze: pois dois vieram à toda do céu mais alto. Eles voavam alto e baixo e sempre em redor, em linhas retas e curvas e voando sempre da esquerda para a direita, circulando um templo de ar. 

Ele ouviu os gritos: como guinchadas de rato atrás dos lambris: uma aguda nota dupla. Mas as notas eram longas e estridentes e vibrantes, diferentes dos guinchos de ratos, descendo uma terça ou quarta e trinando enquanto os bichos volantes cindiam o ar. O grito deles era estridente e claro e belo e cadente feito fios de luz sedosa desenrolada de carretéis murmurantes." 

Imagino a felicidade do tradutor quando encontra um parágrafo destes... 

A vida de Dedalus vai sendo narrada em torno de seus conflitos morais, religiosos, intelectuais e políticos, especialmente no que diz respeito à sua relação com a Igreja Católica e com o nacionalismo irlandês. Tem diálogos memoráveis e a obra é cheia de referências e citações, com passagens bem interessantes. No geral, entretanto, é muito específica e recomendável para o tipo de leitor que se interessa em literatura também como arte e não apenas como entretenimento. Se não for este o seu caso, mas mesmo assim decidir experimentar, é melhor ler em paralelo com algo mais convencional, porque o "retrato" não vai lhe manter acordado depois das 23:00.

domingo, 27 de julho de 2014

No Jardim das Feras


Em 1933, durante a depressão que se abatia sobre os Estados Unidos, Franklin Roosevelt viu-se com a missão de designar um novo embaixador para Berlim. Em tempos normais seria uma tarefa simples, mas eram tempos da ascensão de Adolf Hitler, recém-nomeado chanceler.

Com dificuldade em conseguir um candidato adequado e disposto entre os diplomatas de carreira, Roosevelt acabou por aceitar a sugestão de seu secretário de Comércio  e indicou para o cargo William E. Dodd, um professor universitário de história de classe média de 67 anos, fluente em alemão, conhecedor do país, mas sem qualquer relevância política.

Os registros da passagem de Dodd pela embaixada em Berlim entre 1933 e 1938 foram compilados pelo jornalista e escritor Erik Larson e deram origem a "No Jardim das Feras" (Intrínseca, 2012). O livro descreve a transformação da Alemanha neste período sob a ótica da família Dodd que, dada sua posição, teve contato próximo com os representantes de outros países, membros da imprensa, altos funcionários do regime nazista, líderes da diplomacia americana e figuras sinistras como Goebbels, Göring e Hitler.




Não é uma obra de consulta ou uma simples compilação de documentos. O texto é apresentado em forma de romance e é de leitura fácil e fluida, concentrando-se particularmente em acompanhar a vida da filha de Dodd, Martha, que se envolveu em vários romances, tanto com membros do partido nazista (como Rudolf Diels, chefe da Gestapo) como com um diplomata soviético (Boris Winogradov).

Concentra-se principalmente no período compreendido entre a chegada de Dodd na Alemanha em junho de 33 até a noite do grande expurgo nazista de 30 de junho de 34, conhecida como a Noite das Facas Longas. O maior mérito do livro, creio, seja a reconstituição do ambiente da época e sua capacidade de demonstrar como o regime progressivamente opressivo de Hitler foi gradualmente sufocando as oposições internas e dominando a sociedade pelo medo.

É muito interessante também para entender o contexto mundial da ascensão do nazismo na Alemanha e de como o seu crescente belicismo e claras tendências expansionistas puderam ser observados passivamente, praticamente sem contestação, pelos demais países. É nítido o quase desespero de Dodd e alguns (poucos) outros membros da embaixada em tentar fazer com que o governo americano entendesse o que se passava na Alemanha e o enorme risco que representava a postura isolacionista dos Estados Unidos (pesquisas da época indicavam que 95% dos americanos queriam que os Estados Unidos evitassem qualquer guerra estrangeira).

A discrepância entre o que as pessoas viam de fora da Alemanha, ou mesmo durante visitas rápidas ao país e o que era a realidade nada sutil, mas só perceptível a quem efetivamente morasse por lá, acentuada pela eficiente propaganda nazista e pelo desejo de isolamento dos EUA, faziam com que os relatos e apelos de Dodd soassem paranoicos, ou no mínimo tendenciosos, a seus superiores. Sua crescente frustração e a antipatia que despertava no restante do corpo diplomático acabaram finalmente por tornar a sua posição insustentável e ele deixou o posto em 1938. Ao retornar aos EUA em janeiro de 38, declarou:

"A humanidade corre sério risco, e os governos democráticos parecem não ter ideia do que fazer. Mas, se nada fizerem, a civilização ocidental, as liberdades religiosa, pessoal e econômica estarão em grave perigo."

Como se sabe, nada foi feito. Em setembro de 1939, Hitler invadiu a Polônia, iniciando assim a 2a Guerra Mundial.

"Em 18 de setembro, Dodd escreveu a Roosevelt para dizer que a guerra poderia ter sido evitada se 'as democracias da Europa' simplesmente tivessem agido em conjunto para deter Hitler, como ele sempre insistira. 'Se tivessem cooperado', escreveu Dodd, 'teriam tido êxito'. Agora é tarde demais.' "

Em tempos de crise na Ucrânia, causam calafrios algumas semelhanças entre o que se via na omissão do mundo com relação à Alemanha em 33 e o que se vê hoje no comportamento com relação à Rússia. Como diz reportagem na edição de 23 de julho de 2014 na revista Veja:

"Na semana passada, enquanto o mundo assistia atônito ao aparecimento de uma prova atrás de outra de que os russos tinham envolvimento direto na operação que matou quase 300 passageiros inocentes, a taxa de aprovação de Putin batia seu recorde histórico, com 83%. Adoração interna e desaprovação externa é uma receita desastrosa. Os líderes que enveredam por esse caminho oferecem perigo a seu povo e ao mundo. (...)
(...) Os Estados Unidos e a Europa impuseram sanções econômicas para punir Putin pelo avanço à margem da lei internacional. O efeito foi nulo.
O que farão de concreto agora que a responsabilidade de Moscou na derrubada do avião da Malaysia Airlines vai se tornando impossível de escamotear?"

Se há uma lição que pode ser tirada do livro de Larson é de que é inútil esperar-se que a racionalidade seja uma constante no mundo e que homens e governos se conduzam de forma cortês e coerente. A vigilância, mas principalmente as ações que não foram tomadas pela comunidade internacional sobre o governo de Hitler na Alemanha, e que agora começam a se insinuar como necessárias com relação ao governo de Putin na Rússia, podem ser fundamentais para que mais nenhum povo acorde como o berlinense acordou, 80 anos atrás, na manhã de primeiro de julho de 1934: perguntando pela rua a seus conhecidos, com ironia: "Lebst du noch?" ("Você ainda está entre os vivos?").

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Watson e a Lu


Toda vez que vejo o comercial de televisão apresentando a "Lu" do Magazines Luiza (http://www.magazineluiza.com.br/portaldalu/), fico com uma sensação estranha - algo incomoda no avatar digital desenvolvido para ser a cara da empresa na internet, apesar do óbvio cuidado que tiveram em sua criação.

Em 2013, assisti a uma apresentação bastante interessante da IBM sobre seu supercomputador Watson. Watson não é simplesmente uma nova versão do Deep Blue, famoso por suas vitórias no xadrez anos atrás. Trata-se de um sistema de inteligência artificial  extremamente complexo, capaz de interagir com humanos da forma mais simples possível: compreendendo a linguagem natural e respondendo da mesma maneira.

Para demonstrar o potencial de Watson, a IBM "inscreveu" a máquina em uma das competições mais populares de TV nos Estados Unidos: Jeopardy. Watson participou como qualquer pessoa participaria: ouvindo às perguntas e respondendo a elas através da fala. Ganhou o jogo.


Um dos desafios encontrados pela IBM ao longo do processo, entretanto, foi o de como apresentar essa máquina na TV de uma forma simpática e amigável, que não remetesse, por exemplo, à Skynet da série Terminator, ou ao computador psicopata de Jogos de Guerra. As pessoas, por natureza, não se sentem muito confortáveis com a ideia de máquinas que pensam e ficou muito claro desde o começo que dar uma cara "humana" a Waston seria uma péssima ideia.

Uma das primeiras sugestões, segundo consta, foi usar um avatar com rosto e voz de uma inofensiva criança pequena. O resultado foi aterrorizante - ouvir um computador falar com voz de criança, e ainda por cima dando respostas geniais a perguntas difíceis, foi uma experiência tão bizarra que ficou claro que o problema exigia uma solução menos ortodoxa.

A solução da IBM para a questão foi a de dar uma voz neutra para Watson e criar um avatar abstrato, baseado no logotipo "smarter planet" da IBM, para ele:



O processo de criação do avatar e da voz podem ser vistos no vídeo abaixo e são bastante interessantes:



Acho que é isso que me incomoda na Lu: por ter sido desenvolvida tentando simular um ser humano o mais perfeitamente possível, talvez ela chame a atenção demais e gere um certo desconforto. Neste tipo de aplicação, em que humanos precisam interagir com um interlocutor digital, provavelmente a opção por um avatar abstrato realmente seja melhor.

Em tempo: a demonstração a que assisti para as capacidades de Watson foi também muito interessante. Como o evento se passou no Caribe, foi dada a Watson a tarefa de desenvolver uma sobremesa que fizesse uso de elementos da culinária local para ser servida ao final da apresentação. Simples assim. É surpreendente  imaginar que haja um sistema de IA que consiga raciocinar sobre sabor como um humano, mas posso dizer que provei e que funcionou!

O sistema começou capturando dezenas de milhares de receitas disponíveis através de técnicas de processamento de textos em linguagem natural para entender como os ingredientes se combinam e como os pratos são compostos, passando em seguida a fazer rearranjos dos diversos ingredientes em novas receitas. Ele então fez referências cruzadas entre a composição química dos ingredientes e a psicologia do gosto das pessoas para modelar como o palato humano poderia responder a cada combinação diferente de sabores. Finalmente, deu prioridade a ingredientes locais e combinações típicas da região para sair com a receita final, que acabou sendo composta por um número de ingredientes muito maior do que seria razoável numa receita convencional, criada por um chef.

A título de curiosidade, segue a receita que experimentei  (em inglês) e a foto da sobremesa, preparada pela equipe do hotel. O resultado foi surpreendentemente  bom, mas os cozinheiros lendo isso podem ficar sossegados. As receitas humanas ainda são melhores e o emprego de vocês está garantido, pelo menos por mais alguns anos:

CAYMANIAN PLANTAIN DESSERT
Yields 6 servings 
Special tableware: 5 cm diameter, 7.5 cm tall glasses




Caramelized bananas
- 21 g butter
- 28 g molasses
- 1 tsp (5 g) pure vanilla extract
- about 0.3 g nutmeg
- 170 g peeled very ripe bananas, medium dice (1.25 cm)
- 85 g milk

1- Heat the butter and molasses in a saucepan over medium heat.
2- Add the vanilla extract and nutmeg, then the bananas, and cook for 2 minutes, stirring regularly with a spatula.
3- Add the milk, stir, and bring to a simmer. Remove from the heat. Adjust the nutmeg as needed: you should be able to taste just a hint of it.
4- Pass the mixture through a sieve. Process half of the bananas with the liquid in a blender until smooth. Transfer to a container, mix in the rest of the banana chunks, and let cool for 30 minutes.
5- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes. Once cold, the mixture should not be liquid anymore.

Coconut and lime pastry cream
- 3 egg yolks
- 45 g light brown sugar
- 14 g flour
- 170 g milk
- 17 g lime juice
- 28 g coconut flakes
- 3 g butter, diced

1- In a bowl, mix the egg yolks and half of the sugar with a whisk for 1-2 minutes, then mix in the sifted flour.
2- In a small saucepan over high heat, place the milk, the lime juice, coconut flakes and the rest of the sugar, and bring to a simmer. Remove from the heat and let steep 5 minutes.
3- Process the milk mixture in a blender, and pass through a conical sieve, pressing with a ladle to get all the liquid out of the coconut residue. Return the liquid to the saucepan, and bring back to a simmer.
4- Slowly pour the milk over the egg yolk mixture to temper it, whisking constantly. Return to the saucepan, and bubble gently for 2 minutes, still whisking constantly. Transfer to a container, mix in the butter, and let cool for 15 minutes.
5- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes. Once cold, the mixture should not be liquid anymore.

Papaya and orange salad
- 113 g orange juice
- 20 g butter, diced
- about 0.1 g cayenne pepper
- 128 g papaya, small dice (1/4”)

1- In a saucepan over high heat, reduce the orange juice to ¼.
2- Whisk in the butter and cayenne pepper. Adjust the pepper as needed: you should be able to taste just a hint of it.
3- Toss the papaya, and remove from the heat. Transfer to a container, and let cool for 15 minutes.
4- Pour into the verrines, and refrigerate for at least 30 minutes.

Plantain chips
- Corn oil, for deep-frying
- 1 plantain, very cold
- salt

1- In a deep-fryer, heat the oil in to 375 F / 190 C.
2- Peel the plantain, then cut it in half. Using a mandoline, slice each half very thinly: the slices should be just thick enough so they don’t break. Cut each slice in half lengthwise (into 2 long strips).
3- Proceeding in small batched, deep-fry the plantain strips until golden brown, then drain on paper towels and let cool.
4- Deep-fry the strips a second time for about 10 seconds, to make them crispy. Drain on a paper towel, and season with Salt.
5- Place 2 chips on each verrine just before serving..

domingo, 22 de junho de 2014

Num Estado livre

“Num Estado livre”, do prêmio Nobel de literatura V.S. Naipaul (Companhia das Letras, 2013), é um livro de 1971 que apresenta três histórias curtas, todas focadas no tema de expatriados e imigrantes e suas dificuldades em terras estrangeiras. Em tempos de polêmica com a imigração de haitianos para o Brasil, deslocamentos em massa no Oriente Médio e xenofobia crescente em alguns países da Europa (como na Suíça), é uma leitura bem interessante. Até para lembrar o Dia Internacional do Refugiado, comemorado no dia 20 de junho. 




A primeira delas (“Um entre muitos”), se passa em 1968 e gira em torno de um empregado doméstico indiano (Santosh), que trabalha para um funcionário do governo em Bombaim. Quando seu patrão é transferido para Washington, Santosh implora para ser levado junto, apesar de todos os conselhos em contrário. A partir daí se inicia a trajetória de angústia de Santosh, desde o primeiro choque cultural no avião (que é uma das melhores cenas do texto), passando por sua chegada a Washington, sua “fuga” do patrão e a sua experiência nos conflitos de rua deflagrados com o assassinato de Martin Luther King. 

Para quem já esteve na Índia, a experiência de ver os EUA pelos olhos de Santosh é incrível. Eu estive lá em 2012 e, se o contraste entre um Brasil de 3º mundo nos dias de hoje já foi chocante, imagino como seria em 68, com a capital americana. Algumas sutilezas importantes como a relação entre castas e entre patrão e empregado, a interação (ou falta dela) com sua família e a influência da religião no comportamento de Santosh interferem delicadamente na história e dão um realismo extraordinário ao relato, fazendo com que esta seja a melhor das três do livro, em minha opinião. 

A segunda (“Diga quem tenho de matar”), acontece em 54 ou 55 na Inglaterra e narra a experiência de um homem de origem indefinida, que emigra para Londres com o objetivo de ajudar seu irmão mais novo que havia partido algum tempo antes para estudar em uma faculdade inglesa. Fanático por cinema, ele abre um pequeno restaurante e passa a trabalhar em turno duplo, tentando ajudar seu irmão a realizar o sonho de tornar-se engenheiro, mas é lentamente tomado por uma obsessão assassina. Interessante, mas a mais fraca das três. 

A terceira (“Num Estado livre”), é a mais longa delas e relata a viagem de carro de um funcionário público gay de origem inglesa (em tempos pré-AIDS) e a esposa de um diplomata, entre duas cidades de um país africano durante uma guerra civil tribal iniciada após a sua independência. A princípio julguei tratar-se do Quênia, mas alguns detalhes de geografia e história tornam esta hipótese improvável (longe demais da África do Sul). É mais possível que se trate de Botsuana, Ruanda ou Zimbábue em formação. A tensão entre os dois personagens e o clima progressivamente perigoso e opressivo são os pontos fortes do texto, mas é a subentendida arrogância inglesa de ex-metrópole e a sensação de que “a ficha ainda não caiu” para eles, que chamam a atenção. 

O livro inclui ainda um prólogo e um epílogo menores, mas interessantes. No geral, não é imperdível, mas é uma boa leitura e, por ser composto de histórias curtas, pode ser apreciado em doses homeopáticas. Recomendo.

domingo, 1 de junho de 2014

Rápido e Devagar

Uma das coisas boas do programa Fim de Expediente da Rádio CBN, são as dicas de livros que os apresentadores dão. Em um dos episódios foi indicado com bastante ênfase o livro de Daniel Kahneman “Rápido e Devagar” (Editora Objetiva, 2011), e resolvi comprar. 



Para começo de conversa, não se trata de um livro de auto-ajuda ou de técnicas de gestão revolucionárias como os que transbordam pelas prateleiras das livrarias por aí – é especificamente sobre o processo de tomada de decisões e Daniel Kahneman recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2002 pelo trabalho que resume neste livro. 

Combinando estatística e psicologia, Kahneman combina os resultados de estudos desenvolvidos com especialistas e pesquisadores de diversas universidades e áreas de concentração ao longo de sua carreira e apresenta uma obra de fácil compreensão e extremamente eficiente no que se propõe a fazer: demolir a nossa fantasia de que somos racionais ou equilibrados em nossas tomadas de decisões e apresentar uma nova visão sobre como a nossa mente funciona. 

Kahmeman divide nossa mente em dois “eus” fictícios: o Sistema 1, intuitivo e que exerce o pensamento rápido e o preguiçoso Sistema 2, que executa o pensamento lento, monitora o Sistema 1 e tenta manter o controle da melhor forma possível. Um exemplo de como trata esta separação pode ser visto no problema abaixo, extraído do livro. Não tente resolver o problema, apenas dê ouvidos à sua intuição: 

- Um bastão e uma bola custam 1,10 dólar. 
- O bastão custa um dólar a mais que a bola. 
- Quanto custa a bola? 

Um número veio à sua cabeça. O número, claro, é dez: 10 centavos. A marca distintiva deste problema simples é que ele evoca uma resposta que é intuitiva, atraente e errada. Faça as contas e veja por si mesmo. Se a bola custa 10 centavos, então o custo total será de 1,20 dólar (10 centavos pela bola e 1,10 pelo bastão), não 1,10 dólar. A resposta correta é 5 centavos. É seguro presumir que a resposta intuitiva também veio à mente dos que terminaram como o número correto – eles de algum modo deram um jeito de resistir à intuição. 

Na terminologia do texto, o Sistema 1 lhe fornece a resposta intuitiva e imediata para a pergunta (10 centavos), mas se você não se esforçar para checar ativamente se a resposta está correta, o seu Sistema 2 (responsável por monitorar as sugestões do Sistema 1), vai assumir uma postura “preguiçosa” e endossar a resposta como certa. O mais interessante é que, se você respondeu 10 centavos, decidiu ignorar o fato óbvio de que esse problema não teria sido apresentado se a resposta fosse tão imediata. Ou seja, respondeu sem parar para pensar, mesmo sabendo que a resposta não deveria ser esta. 

A quantidade de insights valiosos sobre o processo decisório que são apresentados ao longo do texto é enorme e são todos embasados por pesquisas sérias. Surpreende a cada capítulo e é extremamente interessante, apresentando casos práticos aplicados em diversas áreas como gestão de empresas, investimentos, educação e políticas públicas. 

Mesmo para quem não atue profissionalmente com planejamento estratégico ou não tenha uma atividade que envolva tomada de decisões, é uma ferramenta fundamental para a compreensão de processos que ocorrem de maneira inconsciente (e em grande medida de maneira incontrolável) em nossas mentes. Ainda que esta compreensão não nos impeça de tomar decisões erradas ou irracionais, pelo menos ajudará a identificar os momentos importantes em que se deve analisar escolhas precipitadas com mais cautela e, assim, evitar algumas grandes besteiras.

domingo, 6 de abril de 2014

Quando o Pokémon encontra o Minecraft

Uma das partes difíceis de ser pai hoje em dia é a quantidade de coisas que você tem que aprender para poder entender o papo do seu filho no caminho até a escola. Videogames, por exemplo: agora a criança de sete anos não se contenta mais em jogar o game, tem que jogar o jogo modificado que viu um marmanjo de 30 anos apresentar no YouTube. Quando se fala de Minecraft, então, a quantidade de versões e modificações tendem ao infinito mais rápido que um limite de 1/x com x tendendo a 0.

Sendo assim, para dar uma força para outros pais que estejam perdendo um tempo absurdo tentando entender o que é e como modificar o Minecraft, vai um pequeno resumo:

Minecraft é um jogo tipo sandbox, o que significa que possibilita que o jogador crie seu próprio mundo dentro dele. Basicamente o objetivo é minerar materiais diferentes, construir casas e sobreviver ao ataque de monstros e criaturas que aparecem à noite ou quando você cava muito fundo e gananciosamente (como os anões fizeram em Moria). Ele pode ser comprado no site da empresa desenvolvedora Mojang (www.minecraft.net) e é relativamente barato, custa cerca de USD 27,00 para PC. Existem versões também para XBOX, PlayStation e tablets.

Como é escrito em Java e é aberto, permite que usuários com conhecimento razoável de programação possam modificá-lo, sendo que aí está grande parte da razão do seu sucesso (se você não sabe o que é Java, tudo o que precisa saber é que trata-se aquela coisa pentelha com um ícone parecido com uma xícara de café e que pede para ser atualizada toda semana no seu PC). O problema é que a instalação das modificações está longe de ser trivial e isso é duro de explicar para a molecada ansiosa que vai te achar um tapado por não conseguir fazê-las. Meu filho por, exemplo, me buzinou o final de semana inteiro porque queria instalar um MOD (nome pelo qual os iniciados se referem a estas modificações), que trazia o mundo Pokémon para dentro do Minecraft.

Bom, eu não sou leigo em informática e nem em Java, mas mesmo assim, tive que quebrar a cabeça para instalar esta desgraça. Então, para exemplificar o processo de instalação, vai uma receita de bolo mostrando como fazer:

1 - Suponho que você já tenha o Minecraft instalado, mas se não tiver, pode comprar e baixar em www.minecraft.net. Quando fizer o download ele vai estar na sua pasta de downloads e será composto inicialmente apenas do arquivo minecraft.exe. Para facilitar, copie este arquivo para a área de trabalho . Ele vai servir tanto para instalar o Minecraft quanto para executá-lo toda ver que quiser jogar. Execute uma vez para instalar e pelo menos mais uma vez para rodar e se certificar de que esteja rodando bem. Caso precise atualizar sua versão do Java, o download pode ser feito em http://java.com/pt_BR/download/index.jsp.

2 - Abra a pasta C:\Users\Fulano\AppData\Roaming\.minecraft\ no seu Windows Explorer (onde Fulano é o nome do seu usuário do Windows). Se não estiver aparecendo, é porque a AppData é uma pasta oculta, então você vai precisar ir até o menu "Organizar" do seu Windows Explorer, entrar no item "Opções de pastas e pesquisa", clicar em "Modo de exibição" e ativar um item chamado "Mostrar arquivos, pastas e unidades ocultas". Aproveite e desative o item "Ocultar arquivos protegidos do sistema operacional".


3 - Deixe a pasta indicada no item 2 aberta na tela. Ajuda bastante a entender o processo.

4 - Agora será necessário instalar um software auxiliar que permite a aplicação dos MODs. Ele se chama FORGE e pode ser localizado em:
http://adf.ly/673885/http://files.minecraftforge.net/minecraftforge/minecraftforge-installer-1.6.4-9.11.1.916.jar
Este link vai lhe jogar para uma página de propaganda do site adf.ly. Não se assuste. Aguarde 5 segundos para a propaganda carregar e clique no botão do canto superior direito "Fechar Propaganda" para acessar o link com o arquivo do FORGE para download (minecraftforge-installer-1.6.4-9.11.1.916.jar). Apenas faça o download, mas não execute ainda.


5 - *** FUNDAMENTAL*** - Esta versão do FORGE que indiquei acima roda no Minecraft 1.6.4. Hoje, por exemplo, o Minecraft está na versão 1.7.5, então este FORGE não funciona com ele. Felizmente, quando você executa o Minecraft, há uma opção chamada de "Editar Perfil" ou "Edit Profile". Nela você vai ver uma caixa de seleção indicando "Version Selection". Altere a versão para 1.6.4 e rode o jogo pelo menos uma vez. Feche o Minecraft.


6 - Agora você pode clicar duas vezes no arquivo baixado pelo link indicado no item 4. Vai aparecer uma caixa com 3 opções de instalação. Selecione "Install Client" e aguarde o processo terminar.

7 - Se tudo correu bem, quando você executar o Minecraft novamente vai ver que apareceu uma nova opção de perfil na caixa de seleção de "Profile", chamada FORGE. Escolha este perfil e use o mesmo usuário e senha que definiu no site da Mojang quando comprou o Minecraft.


O Minecraft vai abrir normalmente e você verá que agora há uma opção "MODS" no menu inicial. Isso indica que até aqui deu tudo certo.


8 - Abra a pasta C:\Users\Fulano\AppData\Roaming\.minecraft\ que indiquei no item 2. Você vai ver que agora o FORGE criou uma pasta chamada MODS lá dentro. É ali que você vai colocar os arquivos de MOD que vier a baixar. Como os do Pokécube que vamos baixar agora.


9 - Acesse o site https://sites.google.com/site/minecraftpokemob/pokemob_en/download e localize no final da página os links para os arquivos Pokecube_Core e Pokecube_Origin. Quando clicar neles, vai cair de novo no adf.ly. Novamente aguarde 5 segundos e clique em "Fechar Propaganda" para baixar os dois arquivos.

10 - Copie os dois arquivos do item 9 para a pasta MODS indicada no item 8 e rode o Minecraft com o perfil FORGE. Quando clicar na opção MODS da tela principal, vai ver o Pokécube instalado e pronto para ser usado! Agora é só começar um novo mundo e jogar.



Espero que esse roteiro seja mais claro e objetivo que os videos que encontrei no YouTube e que ajude outros pais sofredores como eu a atender às expectativas de seus pimpolhos, mas caso tenha qualquer dúvida ou dificuldade, deixe um comentário e eu tentarei esclarecer, se puder... Boa sorte!

sexta-feira, 14 de março de 2014

1Q84

Algumas editoras gostam de judiar dos leitores: depois de ler o primeiro e o segundo livros da trilogia 1Q84 de Haruki Murakami, precisei esperar um ano até que a Alfaguara lançasse o terceiro volume no Brasil. Poderia ter comprado no Kindle em inglês, mas ia ficar um buraco na estante, então resolvi esperar. 




Acabei de ler o terceiro volume ontem e, agora que a raiva passou, acho que já dá para escrever sobre eles. Porque raiva? Depois eu explico. 

A história de 1Q84 gira em torno de dois personagens principais: Aomame, uma instrutora de ginástica, criada por pais seguidores dos preceitos das Testemunhas de Jeová e Tengo Kawana, um professor de matemática e aspirante a escritor, criado sozinho pelo pai, um cobrador da NHK. 

Como assim, "cobrador da NHK"? Pois é. Pelo que o livro dá a entender, há, ou pelo menos havia na década de 80 no Japão, a figura do cobrador por sinal de televisão aberto. Era um sujeito que batia à sua porta para cobrar uma taxa pela captação do sinal da NHK caso você tivesse televisão. Mais ou menos como se um sujeito aparecesse na sua casa para cobrar pelo sinal de UHF da TV Cultura. Bizarro. 

Aomame e Tengo estudaram na mesma escola por um período e tiveram um contato muito curto e intenso, mas nunca se esqueceram um do outro. As suas histórias transcorrem de forma isolada ao longo dos 3 livros, lentamente convergindo para seu reencontro. 

Suas vidas começam a se reaproximar em 1984 quando Tengo aceita participar em um esquema para fraudar um concurso literário, reescrevendo um manuscrito que seu amigo editor Komatsu recebe de uma estranha jovem (Eriko Fukada), com o título de "Crisálida de Ar". 

"Crisálida de Ar" fala de um mundo em que duas luas pairam no céu e em que a seita religiosa fanática Sakigake recebe instruções de seres sobrenaturais chamados de "Povo Pequenino". Com o tempo, tanto Tengo quanto Aomame são transportados para o mundo paralelo em que se passa "Crisálida de Ar", Aomame rebatiza este universo de 1Q84, e é lá que vão se reencontrar. 

O texto é um misto de romance, suspense, policial e ficção fantástica. O primeiro e o segundo volumes são muito bons e criam uma grande expectativa. Daí a raiva que vem quando você lê o terceiro, especialmente depois de esperar um ano pelo lançamento. O terceiro volume se arrasta por cenas que não contribuem em nada com a história e de repente acaba sem explicar pontos cruciais, deixando um gosto amargo na boca. Dá a impressão de que o autor se enrolou tanto na trama que lá pelas tantas desistiu de explicar qualquer coisa e resolveu encerrar. 

É muito estranho o uso do artifício da narrativa em terceira pessoa por um narrador que em alguns momentos é onisciente e em outros não: há coisas explicadas nos mínimos detalhes e outras que permanecem deliberadamente sem explicação. Bem irritante, em minha opinião. 

Pode ser que seja comigo o problema e que eu seja muito ruim em entender as metáforas e sutilezas de 1Q84, mas se você que está lendo este comentário se dispuser a encará-lo, gostaria de sua opinião e ajuda para esclarecer alguns pontos: 

- O que significa aquele suposto fantasma do pai de Tengo batendo na porta de Aomami e Fukaeri? 

- A troco do que a policial amiga de Aomame entrou e saiu da história? Para que ela serviu? 

- Do mesmo modo, para que serviram as cenas de Tengo com as enfermeiras? 

- Para que serve também a cena do encarregado da segurança da Sakigake resolvendo ir para Tókio no final do terceiro livro? 

- Aomame puxou ou não o gatilho ao final do segundo livro? 

- E a crisálida de ar ao lado de Ushikawa? 

- Finalmente, e isso eu acho que algum amigo japonês poderia me explicar: porque há a obsessão do autor em usar tantos "isso mesmo" no livro? É uma tentativa de tradução de alguma expressão japonesa? 

Bom, apesar de todos os problemas com o terceiro livro, acho que vale a pena ler 1Q84, pelos primeiro e segundo volumes, mesmo com a sensação que se tem ao final, de que tudo não passou de uma bad trip...